Em lugares ausentes da história, antes dos limites do tempo sobre a vida, quando a face dos seres era uma imagem do desconhecido... Em terras do nada, lugar esse onde tudo é apenas imaginação... Como árvores de natal sem enfeites, não havia estrelas penduradas no céu... Antes do sol nascer pela primeira vez - talvez se a imaginação assim desejasse, haveria uma lua invisível sem astro algum para iluminá-la... Existiam seres, talvez humanos, talvez reais, seres que moravam na escuridão, cujos olhos eram bolinha inúteis imergidas nas trevas. Já diziam que os olhos são a janela da alma e a cegueira é apenas a alma que não reconhece a luz. Eles não conheciam a luz, pois não havia dia e o que chamamos de noite eles chamavam de vida.
Não! Mesmo assim, os olhos não eram em tudo inúteis, afinal, por eles a alma chora e manifesta quase em palavras, mas apenas em lágrimas, sua solidão. Caminhar e viver são dois nomes dados a mesma pessoa. Caminhavam sem sentido, pois seus olhos eram virgens que nunca conheceram a luz, todavia, posso imaginar que o simples ato de caminhar denuncia uma procura, ou posso usar forçosamente a palavra “esperança”? Sim, creio que devo usá-la. Porém, uma tímida esperança apenas, e nada mais.
Até que um dia... Não! Esse termo é mentiroso, pois até então não existia dia. Vou tentar novamente: até que... a imensidão escura se desfez diante de um imensurável ser que rasga o horizonte, pondo-se no céu como um rei e sentando-se em seu trono suspenso nos ares. A luz passa a habitar no mundo e caminhar entre os homens num encontro inevitável com os olhos... agora os cegos vêem! E os sonhadores aprenderam a olhar para o horizonte! O assombro de um recém-nascido fugido do escuro do ventre da mãe é ínfimo diante da admiração daqueles que deslumbravam petrificados o nascer do dia, esse visitante desconhecido. Peço encarecidamente um simples exercício de empatia: imagine-se como ser da noite que nunca contemplou a aurora da manhã, nem sequer uma chama a clarear, e de repente depara-se com o primeiro nascer do sol.
Outrora obscurecidos os homens não enxergavam sua face no espelho, apenas tateavam os rostos uns dos outros, era impossível reconhecer a si ou a alguém, mesmo próximo. Contudo, quero agora falar apenas do primeiro dia em que houve dia. Tamanha a alegria, o céu e o mar foram pintados de azul e as pessoas conheceram o infinito, muito além do limite da imaginação onde seus sonhos tateavam. Nesse dia o perfume das flores fez mais sentido. Nesse dia o homem conheceu as montanhas e viu-se pequenino. Nesse dia os olhos aprenderam a olhar nos olhos, e o amor nasceu forte como em pleno meio-dia. Houve vida até o entardecer. Até que... O gigante se moveu e parecia ser engolido pela terra, para alguns, porém, mergulhava no mar. A escuridão sem fim tragou a luz e cegou os olhos de todos. Com o cair da noite, o sol que nasceu parecia aos poucos padecer... morto, foi sepultado e se pôs.
Naquela noite a escuridão fez-se mais escura, e o medo postou-se mais visível. Peço novamente apenas mais um exercício de empatia: imagine-se perante a primeira noite, incerto se o dia outra vez nasceria. Talvez seja como o caso do cego que outrora contemplou o belo e suas cores, todavia hoje há apenas imagens de lembranças misturadas com saudades do que se foi. A humanidade caiu na incerteza do amanhã. Quando a noite não tem fim, não existe amanhã.
Eles choraram amargamente, mas alguns não deixaram desfalecer sua esperança. Nas trevas seus olhos não esqueciam a luz, como se o sol nunca houvesse se posto em suas almas. Outros, porém, viram na escuridão que os cercava um simples reflexo de suas almas enegrecidas. Eles amaram mais a noite do que o dia. Esperança é esperar quando o coração já possui o que se espera, mesmo ainda esperando. O que se espera é que venha plenamente o que já se tem em parte. O dia nasceu para aqueles que já tinham o seu brilhar em si e Deus fez deles estrelas, brilhando na escuridão, para lembrar os homens que a noite não é eterna, mas finda, e que o dia logo vem.
As gerações passaram e as estrelas ainda brilham, mas encantam a poucos. O sol nasce todas as manhãs como se fosse a primeira vez, mas poucos o aplaudem. Contudo, devemos convir, que o pôr-do-sol ainda é belo o bastante para roubar lágrimas. A saudade ainda acompanha todo entardecer, e quando escurece... já não sabemos mais a quem porventura se destina a saudade. Ouso perguntar: saudade do desconhecido? Sem demora, ouço a voz das estrelas a responder: “sabes apenas... saudades de Deus!” Enfim, não se angustiem a esperar – as estrelas nos lembram – breve o sol vai nascer.
Castro Lins
Num mundo em trevas, falar de estrelas nunca é bastante, sempre é essencial. Ofereço a vós, estrelas, em forma de consolo, essa tão simples - ou até mesmo infantil - historinha. Devo esse textinho a uma amiga bem distante dos meus olhos, mas bem próxima do meu coração, nunca duvidei do seu brilho... do sempre amigo... Castro Lins
.E falou-lhes pois Jesus outra vez dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida
.E falou-lhes pois Jesus outra vez dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida