domingo, 9 de agosto de 2009

As Estrelas Nos Lembram






Em lugares ausentes da história, antes dos limites do tempo sobre a vida, quando a face dos seres era uma imagem do desconhecido... Em terras do nada, lugar esse onde tudo é apenas imaginação... Como árvores de natal sem enfeites, não havia estrelas penduradas no céu... Antes do sol nascer pela primeira vez - talvez se a imaginação assim desejasse, haveria uma lua invisível sem astro algum para iluminá-la... Existiam seres, talvez humanos, talvez reais, seres que moravam na escuridão, cujos olhos eram bolinha inúteis imergidas nas trevas. Já diziam que os olhos são a janela da alma e a cegueira é apenas a alma que não reconhece a luz. Eles não conheciam a luz, pois não havia dia e o que chamamos de noite eles chamavam de vida.



Não! Mesmo assim, os olhos não eram em tudo inúteis, afinal, por eles a alma chora e manifesta quase em palavras, mas apenas em lágrimas, sua solidão. Caminhar e viver são dois nomes dados a mesma pessoa. Caminhavam sem sentido, pois seus olhos eram virgens que nunca conheceram a luz, todavia, posso imaginar que o simples ato de caminhar denuncia uma procura, ou posso usar forçosamente a palavra “esperança”? Sim, creio que devo usá-la. Porém, uma tímida esperança apenas, e nada mais.



Até que um dia... Não! Esse termo é mentiroso, pois até então não existia dia. Vou tentar novamente: até que... a imensidão escura se desfez diante de um imensurável ser que rasga o horizonte, pondo-se no céu como um rei e sentando-se em seu trono suspenso nos ares. A luz passa a habitar no mundo e caminhar entre os homens num encontro inevitável com os olhos... agora os cegos vêem! E os sonhadores aprenderam a olhar para o horizonte! O assombro de um recém-nascido fugido do escuro do ventre da mãe é ínfimo diante da admiração daqueles que deslumbravam petrificados o nascer do dia, esse visitante desconhecido. Peço encarecidamente um simples exercício de empatia: imagine-se como ser da noite que nunca contemplou a aurora da manhã, nem sequer uma chama a clarear, e de repente depara-se com o primeiro nascer do sol.

Outrora obscurecidos os homens não enxergavam sua face no espelho, apenas tateavam os rostos uns dos outros, era impossível reconhecer a si ou a alguém, mesmo próximo. Contudo, quero agora falar apenas do primeiro dia em que houve dia. Tamanha a alegria, o céu e o mar foram pintados de azul e as pessoas conheceram o infinito, muito além do limite da imaginação onde seus sonhos tateavam. Nesse dia o perfume das flores fez mais sentido. Nesse dia o homem conheceu as montanhas e viu-se pequenino. Nesse dia os olhos aprenderam a olhar nos olhos, e o amor nasceu forte como em pleno meio-dia. Houve vida até o entardecer. Até que... O gigante se moveu e parecia ser engolido pela terra, para alguns, porém, mergulhava no mar. A escuridão sem fim tragou a luz e cegou os olhos de todos. Com o cair da noite, o sol que nasceu parecia aos poucos padecer... morto, foi sepultado e se pôs.


Naquela noite a escuridão fez-se mais escura, e o medo postou-se mais visível. Peço novamente apenas mais um exercício de empatia: imagine-se perante a primeira noite, incerto se o dia outra vez nasceria. Talvez seja como o caso do cego que outrora contemplou o belo e suas cores, todavia hoje há apenas imagens de lembranças misturadas com saudades do que se foi. A humanidade caiu na incerteza do amanhã. Quando a noite não tem fim, não existe amanhã.

Eles choraram amargamente, mas alguns não deixaram desfalecer sua esperança. Nas trevas seus olhos não esqueciam a luz, como se o sol nunca houvesse se posto em suas almas. Outros, porém, viram na escuridão que os cercava um simples reflexo de suas almas enegrecidas. Eles amaram mais a noite do que o dia. Esperança é esperar quando o coração já possui o que se espera, mesmo ainda esperando. O que se espera é que venha plenamente o que já se tem em parte. O dia nasceu para aqueles que já tinham o seu brilhar em si e Deus fez deles estrelas, brilhando na escuridão, para lembrar os homens que a noite não é eterna, mas finda, e que o dia logo vem.


As gerações passaram e as estrelas ainda brilham, mas encantam a poucos. O sol nasce todas as manhãs como se fosse a primeira vez, mas poucos o aplaudem. Contudo, devemos convir, que o pôr-do-sol ainda é belo o bastante para roubar lágrimas. A saudade ainda acompanha todo entardecer, e quando escurece... já não sabemos mais a quem porventura se destina a saudade. Ouso perguntar: saudade do desconhecido? Sem demora, ouço a voz das estrelas a responder: “sabes apenas... saudades de Deus!” Enfim, não se angustiem a esperar – as estrelas nos lembram – breve o sol vai nascer.


Castro Lins


Num mundo em trevas, falar de estrelas nunca é bastante, sempre é essencial. Ofereço a vós, estrelas, em forma de consolo, essa tão simples - ou até mesmo infantil - historinha. Devo esse textinho a uma amiga bem distante dos meus olhos, mas bem próxima do meu coração, nunca duvidei do seu brilho... do sempre amigo... Castro Lins

.E falou-lhes pois Jesus outra vez dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Escultura



Não escondas o rosto,
Assim da vida...
Retiras...
Todo o gosto.
És obra esculpida,
És arte escultura,
Sou artista
Em loucura,
Desejando ser arte,
Tinta e versos
Para encontrar-te.
Apenas perto;
Apenas parte;
Parte da tua moldura.
E por amor
Que poeta criador
Não se faz criatura?
Mesmo Deus fez-se homem,
Escritor,
Ao mesmo tempo escritura.
Teus olhos
Dois sóis,
Puras, brancas nuvens,
Limpos lençóis.
Orquestra dos céus
Sua mansa, doce,
Límpida voz.
Os cabelos teus:
Mar negro,
És a mais perfeita
Criatura de Deus
Feita em segredo.
Sorria...
Teu mover de lábios
Encanta, embriaga,
Enlouquece os sábios.
Choro com ar divino,
Uma lágrima
Mergulha no mar
Faz dele... mais salino.
Tão doce até salgar,
Um beijo...
Enlouqueceria as ondas,
Seria cômico, estranho,
Nem imaginação sonda
Essa quimera,
Quem dera sonho.
Traços de menina,
Banha-se a bailar
Na chuva
Vinho de muita idade,
És videira,
Uva... felicidade.
Afasta-te!
Oh! infame
E vil vaidade.
Não devo tocar-te
Dizer o nome,
O amor fez-me covarde.
Já não há sons no piano,
As notas loucas repetem
Emudecidas: “te amo... te amo”.
Medo de compor,
Oh! minha linda partitura!
Apenas escultor
Que admira, tu safira,
A mais linda escultura.
Castro Lins