sexta-feira, 19 de março de 2010

EXISTÊNCIA EM PROVA




Existência Em Prova



As divinas poesias sagradas, uma vez me disseram: “o amor não acaba!” E se porventura acabar, só me resta crer num engano temporário: o que jaz em seu fim não é o amor, mas sim um engodo, um plágio indistinguível, bijuteria bela aos olhos mais inconsistente ao tempo, enfim, uma ilusão tola.



Talvez o amor, esse ser que nem mesmo a abstração pode apalpar, possa ser, numa tentativa quase falível, compreendido através da história de um jovem, que certo dia encontrou uma vistosa fruta avermelhada... confundida sempre a jóias, por virtude do seu fascínio e beleza exalada aos sentidos, úmida, e penetrante pelos poros da pele sedenta. Sem mais razões além do seu puro encanto, o jovem deu ao fruto um nome: coincidentemente, amor. Dias felizes como aqueles nunca mais ousaram existir, o sabor do amor é como o doce de cupuaçu, e sua cor é tão vermelha como morangos, seu cheiro cheira a chuva em terra árida, após temporadas cruéis de seca. E seus olhos, são estrelas emprestadas durante o dia, a espera da noite para voltar ao céu. O amor é a fruta da eternidade, mas só dá uma vez no ano.



Já era de se esperar... a primavera, cúmplice vil do tempo, se foi. Dias de sequidão e tempestades assombradas, trouxeram o fim para a fruta outrora acreditada como eterna. Apodrecida, a fruta amor acabou, ou será mais crível que nunca veio a existir? “impossível”, respondeu o jovem a si. Seria um tanto insano para ele negar a veracidade do amor, pois o tinha saboreado, tocado a sua face, seu gosto ainda adocicava sua língua. Seria o real assim de tão difícil distinção, ou seria a ilusão tão irreconhecível?



Certamente, nunca mais a chuva exalou seu cheiro de forma impercebida por aquele terno rapaz, suas saudades comovem as estrelas que de tristeza cadente vieram a cair em desconsolo. Ainda apaixonado, o jovem finda seu romance prematuro em pleno inverno seco, diante da saudade dos bons tempos de morangos... Porém num instante que antecede o fim, segundos, não de arrependimento, todavia prestes a convencer-se da doce ilusão... o autor da história de repente lembra que aquele jovem de coração quebradiço, personagem seu, carregava consigo algumas sementes no bolso esquerdo. Após um cômico sorriso, o autor desfecha seu pensamento sem mais rodeios: por certo o amor não acaba, ele é uma fruta que sempre deixa sementes, quando saboreada.
Castro Lins

quarta-feira, 17 de março de 2010

O ÍNSTANTE É BREVE




O Instante é Breve

É simplesmente lamentável não saber ao certo quanto tempo há, antes que a bola de sabão estoure. Sabe-se apenas que o instante é breve. Ela paira no ar, o vento por vezes a leva sem direção, esfera de cores indefinidas, plágio safado do arco-íris; e sem mais tempo para descrições... de repente ela estoura, de forma tão repentina quanto ironicamente esperada. Entre os ares, tão leve quanto breve... Não se deve negar a brevidade da bola de sabão, no entanto, ignorar os sorrisos espantados das crianças, efeito imediato, seria pura injustiça.



Suspeito que a felicidade é curta, de mesmo tamanho que a efêmera existência simplória de uma bola de sabão, num instante desaparece, porém, deixa num rosto infantil a infindável marca de um belo sorriso. Juntaram-se os lábios para um sopro delicado, foi quando Deus soprou nas narinas do homem... Cada vez maior a bola, maior ainda o suspense, o encanto... Quando a bochechas inflam e o ar úmido corre como um rio entre os lábios, as pessoas descobrem o fôlego exigido pela felicidade, ousadia de soprar cada vez mais a despeito do previsível estouro a por vir.



Engraçadas bolas de sabão, fazem rir apenas alguns poucos bobos adultos agraciados, e as crianças de olhos virgens... essas tentam agarrar-las veementemente antes que caiam e estourem no chão. Hoje nós, Senhoras e Senhores, quão mais infelizes, pois enfim, pouco sabemos rir das bolas de sabão da vida, essas mesmas de vã existência colorida, perdemos a graça, a qualidade de rir do ridículo, do transitório belo. Na medida em que a vida amadureceu, nossos olhos, outrora virginais, foram violentamente violados e aprenderam a chorar secas lágrimas que não sabem para onde escorrer. A felicidade dura instantes, ou até metade de instantes irrisórios, merecedores de longa gozação. Essa razão leva as crianças a soprarem uma bola após outra, sem descanso, sem a duvidosa importância com os futuros prévios estouros.


Quanto tempo há, antes que a bola de sabão estoure? Não imagino uma resposta... Vi uma criança a sorrir, apenas isso importa saber.

Castro Lins

domingo, 7 de março de 2010

IPÊ



Jequitibá!
Forte gemido da noite,
Jequitibá!
Vento vozes e açoite...
Jequitibá!
Já cheia a lua caiu,
Jequitibá!
Nascente estéril hostil,
Jequitibá!
Já morta o mar lhe engoliu.
Jequitibá!
Naus noite negra escura,
Jequitibá!
Derramas sombras sangrentas
Jequitibá!
Cai como fruta madura,
Jequitibá!
Tua cor é a noite cruenta.
Jequitibá!
Olhos de sono atormenta,
Jequitibá!
Aurora, o sol logo nasce...
Jequitibá!
Já és Morta a noite que jaz
Jequitibá!
Como se alguém lhe açoitasse,
Jequitibá!
Desconjuntasse a vida tenaz.
Jequitibá!
Lindo claro dia a nascer;
Jequitibá!
A negra noite a morrer...
Jequitibá!
Suas flores por folhas caídas:
Ipê!
Em sou tronco jaz outra vida.
Castro Lins