terça-feira, 30 de novembro de 2010

TEMPOS ETERNOS


O solitário é sozinho enfadonho...
O amor cujas palavras a ser lenda,
Hoje simples estória a mais um sonho
Bastante erro para que se arrependa!

O Amor gerado a gerações de outrora,
Agora em bares outras mais estórias
- No tempo a eternidade em uma hora -
Já não passas da glória mais inglória.

Conto - duvido tua veracidade...
Encanto nunca posto a prova antes,
Pois não eras verdadeiro, era a verdade!
Minha eternidade de breve instante;

Enterro o amor nas terras do tempo
- Isso e nada mais és sobre o chronos -
És eterno entre romances que invento...
A história que levas... é o que somos.


Castro Lins

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

EM MEMÓRIA DE MIM





“Olá Castro. Estou com saudade de ti. Lembro que um dia disseste que achas flamboyants floridos muito belos, semana passada vi um. O pior é que pouco a pouco mais e mais dessas árvores vão florir e com isso minha saudade vai aumentar.”
A saudade é estado de ausência que é fome em quem a porta. Emprestei a uma amiga, minha pura admiração pelos flamboyants.
Sem exitar vejo que ela fez dessa árvore um altar, um símbolo que incita a memória humana e traz o passado de volta ao presente: enfim, tem-se uma definição próxima para saudade.
O concreto, outrora inanimado, ganha vida através da metáfora. E a árvore florida perde sua simploriedade comum a todas as pessoas ressaltando, a partir desse instante, um significado novo e único para dois indivíduos em especial.
O flamboyant é o altar que levantamos para relembrar nossa amizade. Todavia o símbolo só faz sentido diante da ausência do que se espera.
É como contemplar a fotografia de alguém que partiu.
De mesmo modo funciona a esperança que existe na perspectiva da vinda, que por vezes é celebrada e vivida antecedendo a chegada. A saudade por sua vez, em termos idênticos, também carece da existência do ausente, remete ao desligamento, ou melhor, ao romper das relações de união.
De modo que cada altar que os homens construíram aos seus deuses, no transpassar da história, é a evidencia mais clara de uma saudade latente entranhada neles...
Saudades do desconhecido, do místico que, antes do misterioso romper, era parte vital desses homens.
E Jesus tomou o pão e dando graças o partiu dizendo:
“Esse é o meu corpo que é entregue em favor de vós. Façam isso em memória de mim”. De igual modo pegou o cálice e disse: “Esse é o cálice da nova aliança feita por Deus com seu povo, selado com meu sangue. Cada vez que vós beberes do cálice, façam isso em memória de mim.”
Fazei isso em memória de mim, disse ele.
Após tais palavras, para aqueles homens, o vinho já não tinha o mesmo sabor, eles passaram a degustá-lo com a alma, e a cada gole a memória instintiva era remetida diretamente a Jesus.
Antes do flamboyant, o pão e vinho prestavam a mim menos significado.
O flamboyant é meu símbolo de amizade e o vinho é a expressão metafísica de uma aliança entre Deus e seu povo. No breve instante do partir do pão e do beber do cálice os Cristãos erguem, onde quer que estejam, um altar que reaviva a memória e seja qual for a relevância do sacrifício de Jesus no passado, agora, é parte da vida dos cristãos hoje, no presente.
A memória humana se alimenta dos símbolos... É o cheiro da chuva que inevitavelmente percorre as narinas e manda um recado para a memória, e por fim lembramo-nos de alguém ou de algum instante. Bastam apenas meros gestos particulares e um magro colo para que alguém reveja sua mãe, estando ela presente ou não. Ou perante a cor da farda militar, que ainda não desbotou na mente dos torturados da ditadura de 64, uma memória mórbida que conduziu muitos ao suicídio.
A memória tem fome de símbolos, e Jesus parecia estar certo disso quando instaura sua ceia santa. O pão é o corpo de cristo, e a única mágica ali presente diz respeito às metáforas e ao mundo dos significados. O vinho é seu sangue e ao mesmo tempo uma assinatura que sela um compromisso, recorda uma aliança!
Reagindo de forma indiferível, sem exceções alguma a diferir, o flamboyant lembra minha amizade de outrora, ou talvez, a aliança cuja matéria que a compõe são promessas cabíveis no universo da linguagem, porém, ainda assim, tais palavras ganham formas concretas de metal conforme um perfeito encaixe nos dedos humanos.
A ceia, assim como o flamboyant ou o cheiro da chuva, para esse que vós escreve, são meus altares. Símbolos sagrados que o homem constrói para aproximar-se do ausente, e ao mesmo tempo celebrar em anseios a sua volta.
Altares nos lembram de quem amamos, imortalizam seus feitos e existem sempre em memória de alguém. Assim o povo Judeu, em suas longas caminhadas, levantava altares para preservar sua gratidão a Deus, essa freqüentemente passível ao ingrato esquecimento.
Cada símbolo é parte intima do que somos e o que não podemos nunca esquecer, portanto, sou um construtor de altares para que a memória não se esvazie dos significados mais ternos como a gratidão, amizade, pessoas amadas, Deus...
O flamboyant é sagrado em memória de uma amizade. O vinho e o pão em memória de Jesus e assim por diante... De forma a aproximar-se do ausente objeto de amor. Sempre em memória de alguém.
Castro Lins





“Até o pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, para abrigar seus filhotes; eu, os teus altares, Senhor dos exércitos, Rei meu e Deus meu!” Salmo 84

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CONSELHO

CONSELHO

“O que diremos, pois, à vista dessas coisas?” As vezes fogem as palavras. Sou um bom escritor impessoal, todavia, quanto mais próximo do meu leitor, mais desmontado fico.
É muito fácil ser distante, descompromissado para com o outro. Tendo em mente esse diagnóstico C. S. Lewis afirma ser o amor, esse em suas diversas facetas, um caminho direto, e por vezes sem volta, para o sofrimento!
Quando criança, eu ingênuo suficiente, a parte de qualquer preservação própria, dava-me empenhado a amar meus amigos e pais irrestritamente sem saber que estava fadado a dar de cara com o sofrimento... Diante dessa surpresa inconveniente, passei a odiar o amor pela sua forte ligação ao desespero e dor...
Fui castrado dolorosamente desse sentimento vil decidido a não mais sofrer.
De repente, no beliche do meu quarto de internato, sozinho, senti que alguém corajosamente abrira as partas do amor. Tentei adverti-lo do sofrimento por vir, mas ele não me deu ouvido e ousou amar-me consciente de toda a dor que isso lhe causaria. Ele me amou primeiro, e amou até o fim... até a cruz. Nada em troca me pediu, nada de ide ao mundo, nem a igreja. Somente Vinde... Vinde a mim... Vinde de novo... Vinde... e eu o atendi!


Sempre, inclusive hoje, temo o amor e estou certo que ele não faz sentido, pois enfim, como diria Camões: “ele é contrário a si...” e no seu decorrer depara-se com a dor conseqüente, mas já não importa: “é dor que dói e não se sente.”

Instantes dizem que algumas pessoas conseguiram desvendar o segredo do amor, vou contar-lhe não porque resolvi o enigma, narro apenas o que ouvi dizer: O amor e a dor são entrelaçados, todavia para raros, o amor cresce tanto... que a dor assim, mais parece um detalhe que afeta e machuca no entanto não detém, pode ferir mas não mata, aviva. Nessa fase o amor é posto na balança junto ao sofrimento e o desnível da balança nos diz que a dor é um preço mais que justo para o amor...

É sobre a cruz que lhe falo em metáforas! A cruz abominável pelos homens foi apenas um preço justo e pequeno diante da Salvação e do plano inequívoco de Deus. A cruz é parte da história como conseqüência inerente a um amor sem igual, todavia ela não é o fim... é somente parte.

Enfim... conselhos chateiam quando muito longos. ... Quero apenas que lembres que não importa os esforços seus para amar alguém, tudo que é verdadeiro nasce em atentar aos repetitivos: Vinde... Vinde... Vinde... Esse é o segredo mais público que conheço. Vai! Esse é meu conselho.


Castro Lins