segunda-feira, 28 de maio de 2012

NÃO SEI DIZER TEU NOME EM VÃO



NÃO SEI DIZER TEU NOME EM VÃO


            Eu não saberia dizer Teu nome em vão. Primeiro, eu não poderia dizer Teu nome, quando tudo a dispor ou a devir não designa em inteireza o que Tu és. Oh Deus, sei que se alguma palavra pudesse Te conter, eu não a ousaria pronunciar com os lábios meus... a menos que minha alma soubesse cantar a gratidão em seus doces acordes, a menos que minha alma já houvesse despertado ao revés do amor, não antes do meu coração arder ao som da primeira sílaba desse nome, não enquanto ainda sou virgem ao toque macio da fé que arrebata com tamanha suavidade. Todavia, se porventura um nome pudesse desanuviar Tua eternidade, como não dizê-lo em vão? Ora, se Teu nome apenas expõe à frivolidade toda existência, vã é a tentativa de não dizê-lo em vão.

            A despeito da vida por demais efêmera, insisto que não saberia dizer Teu nome em vão. Pois a alma grata não sabe medidas ou valores.  Ela é feita sensível a menor dádiva Tua. O simples relance de vida a alegra, como a uma criança risonha. Tola, entrega-se sem pudor ao mais ingênuo dos presentes só para assegurar-se que nada, nem o sorriso mais inútil, seja vão.  Se despertares a gratidão, desnecessárias serão as datas especiais, pois, bem logo, toda a vida intuirá o milagre do Teu bem querer. Se de feito agradecidos, por certo, fazes cada momento fugaz digno do Teu nome impronunciável.

Deus, as nossas forças não são próprias, e nossos sonhos sempre foram de Tua composição, portanto ou por muito menos, cada fibra do nosso corpo bem diz ao Teu nome e, finalmente, não saberíamos dizer em vão o Teu nome, pois, de modo excelente, essa incontida gratidão declara incisivamente aos céus: Nada foi em vão.

 Te agradecemos Deus –

                         

  Castro Lins


quarta-feira, 9 de maio de 2012

EXISTE PARA INCOMODAR

Existe para incomodar

                      No Antigo Testamento bíblico a figura do profeta hebreu é sempre incômoda para manutenção da sociedade, aliás, sua função não é outra senão ruir estruturas socialmente construídas. No AT, a força que o profeta faz uso para negar a sociedade é, ironicamente, a mesma força que a formou e legitimou outrora, a saber: a religião, ou a palavra do Deus. Legitimado pela palavra do próprio Deus o profeta ousa negar toda religião vazia de autenticidade e, sobre a base da autoridade divina, ele pode assim convocar o povo a uma reforma sócio- religiosa. Sua voz é incômoda, pois denuncia a iniquidade que aos poucos se acomoda em formas sociais e religiosas. Como diz o livro do profeta Amós:

  “Aborreço, desprezo as vossas festas, e as vossas assembléias solenes não me dão nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos, e ofertas de manjares, não me agradarei delas: nem atentarei para as ofertas pacíficas dos vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias dos teus instrumentos. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso.”

                 A mesma autoridade divina que um dia institui seus sacramentos, agora, pela boca dos profetas os rejeita, pois, mais do que cerimônias, holocaustos ou cânticos, Deus prefere a justiça, a obediência a lei e a compaixão ao pobre ( Amós 5: 11). Trechos do livro de Amós demonstram que a prática religiosa nunca deve estar desvinculada da prática de justiça social, de modo que o enriquecimento de poucos por sobre a miséria e desolação de muitos faz dos sacrifícios sagrados abominações diante de Deus, um descaso social que, segundo Deus intermediado pelo profeta, trará ruína para o povo de Israel.

                Assim como a prática da justiça social tem efeitos sobre as práticas religiosas, também estas refletem diretamente por sobre a vida do povo, outro profeta chamado Oséias trás tal denuncia em suas palavras: 

Só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o matar, e o furtar, e o adulterar, e há homicídios sobre homicídios. (...) O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei dos teus filhos.’

               Quando os sacerdotes da nação se desviaram de lei e conseqüentemente do Senhor, por logo todo o povo caiu em desgraça por se deixar conduzir por esses. Os sacerdotes e os profetas, sempre, no devido momento, devem se opor, pois, afinal enquanto um promove a estabilidade o outro provoca mudança.

             Os profetas ainda ensinam hoje nos tempos de igreja evangélica brasileira, pois, esses são dias em que a injustiça social mais uma vez se fez cômoda entre as estruturas sócio- religiosas, de modo a fazer de cultos, festas e cânticos algo por certo abominável aos olhos de Deus, o descaso para com o semelhante tem esvaziado todo o significado de tais cerimônias. E por fim, muitos dos pecados do nosso povo brasileiro tem sido resultado de rebanhos mal conduzidos por pessoas que há muito se afastaram da lei e da justiça divina e, consequentemente, também estão longe do Deus bíblico. Todavia os profetas nos ensinam que todo engano com máscaras sagradas, só pode ser contradito pela palavra essencialmente de Deus, por conseguinte, é dever do profeta incomodar, se opor, denunciar, reformar ou ruir toda e qualquer estrutura corrompida pelo homem, desviada do amor, mesma quando travestida em aparências sagradas.

                                                      Castro Lins