quinta-feira, 27 de junho de 2013

Anúncios e Denúncias


Anúncios e Denúncias


            Diante do reconhecível pluralismo tão presente nas sociedades, seria difícil definir estritamente qual a missão da Igreja Cristã para o mundo, aliás, se considerarmos as mudanças de paradigma que incorrem na mesma medida do passar dos anos, poderíamos dizer que a missão da igreja muda constantemente. Por outro lado, alguns princípios fundamentais igreja cristã foram reconhecidos desde os tempos de Jesus e, surpreendentemente, continuam imprescindíveis  até os dias atuais, ainda mais diante desse novo momento que insurge em quase toda a totalidade dos estados brasileiros, a saber, o povo finalmente foi a ruas clamar por reformas sociais.   

Poder-se-ia dizer que os brasileiros surpreenderam a história, e com ela todas as previsões sociais, isso, quando enfim o povo trouxe as claras os anos de violação dos seus direitos de cidadania, e exigiu justiça. A voz do povo ecoou em todas as redes televisivas do Brasil, reverberou pelo mundo, despertou um potencial transformador outrora desconhecido por essa geração. Tão de repente e de modo imprevisível surge um novo momento político que assusta, assim como tudo que se desconhece,  no entanto, também acorda esperanças cuja existência nem mesmo suspeitava-se. Um grito que reúne os protestos consonantes dos milhões. Um novo cenário se ergue... o ato passado se fecha e nesse teatro da vida real cabe perguntar, qual o papel da igreja cristã brasileira nesse ínterim? A resposta não é simples, pois há crostas  de séculos que separaram a igreja de seu dever social com a sociedade que a cerca, de modo que essa dívida ganhou proporções, diríamos ironicamente, latifundiárias.

Na verdade abro mão do que acabei de escrever! A resposta é mais simples do que aparenta, pois, logo, qual outro caminho para igreja, senão esse, o da justiça? Que outra bem aventurança há para um seguidor de Jesus Cristo, senão toda aquela que o conduz a vida? Vida sem nenhuma redução proposital do seu significado, esta em todos seus aspectos possíveis, ou seja, saúde, educação, segurança, paz, justiça...? Dissociar o evangelho da realidade social e política seria o mesmo que separar duas palavras de importância central nos evangelhos, a saber: Reino de Deus. As categorias do etéreo todas não preenchem o nome Deus.  Toda conjuntura política e humana de um Estado compõe a palavra Reino. Unidas, tais palavras unem um Estado meramente humano ao desígnio e senhorio de um ser infinito, Deus. É como unir o céu e a terra em duas palavras, ou, melhor nos diz o evangelho: “Faça-se a Sua vontade, assim na terra como no céu...”


A missão da igreja para tais dias de manifestações é, sobre todas as demais, profética... Como nos tempos dos profetas bíblicos, a Palavra de Deus soa e ressoa em tons de denúncia social. Ainda que toda a revolução essencialmente cristã tenha seu nascedouro nas regiões mais profundas do coração humano e, ainda que, as transformações desejadas devam começar dentro de cada um em particular, seria um erro permitir que tais transformações só comecem para não continuar, para logo adiante pararem dentro do homem, ou estacionarem na proteção de quatro paredes de um templo. Que a conversão comece! Mas não apenas comece!  Prossiga pelas ruas do nosso país cantando os anúncios e denúncias do Reino de Deus.  

Castro Lins

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