Anúncios
e Denúncias
Diante do reconhecível pluralismo tão presente nas
sociedades, seria difícil definir estritamente qual a missão da Igreja Cristã
para o mundo, aliás, se considerarmos as mudanças de paradigma que incorrem na
mesma medida do passar dos anos, poderíamos dizer que a missão da igreja muda
constantemente. Por outro lado, alguns princípios fundamentais igreja cristã
foram reconhecidos desde os tempos de Jesus e, surpreendentemente, continuam
imprescindíveis até os dias atuais,
ainda mais diante desse novo momento que insurge em quase toda a totalidade dos
estados brasileiros, a saber, o povo finalmente foi a ruas clamar por reformas
sociais.
Poder-se-ia
dizer que os brasileiros surpreenderam a história, e com ela todas as previsões
sociais, isso, quando enfim o povo trouxe as claras os anos de violação dos
seus direitos de cidadania, e exigiu justiça. A voz do povo ecoou em todas as
redes televisivas do Brasil, reverberou pelo mundo, despertou um potencial
transformador outrora desconhecido por essa geração. Tão de repente e de modo
imprevisível surge um novo momento político que assusta, assim como tudo que se
desconhece, no entanto, também acorda
esperanças cuja existência nem mesmo suspeitava-se. Um grito que reúne os
protestos consonantes dos milhões. Um novo cenário se ergue... o ato passado se
fecha e nesse teatro da vida real cabe perguntar, qual o papel da igreja cristã
brasileira nesse ínterim? A resposta não é simples, pois há crostas de séculos que separaram a igreja de seu dever
social com a sociedade que a cerca, de modo que essa dívida ganhou proporções, diríamos
ironicamente, latifundiárias.
Na
verdade abro mão do que acabei de escrever! A resposta é mais simples do que
aparenta, pois, logo, qual outro caminho para igreja, senão esse, o da justiça?
Que outra bem aventurança há para um seguidor de Jesus Cristo, senão toda aquela
que o conduz a vida? Vida sem nenhuma redução proposital do seu significado, esta
em todos seus aspectos possíveis, ou seja, saúde, educação, segurança, paz, justiça...?
Dissociar o evangelho da realidade social e política seria o mesmo que separar
duas palavras de importância central nos evangelhos, a saber: Reino de Deus. As
categorias do etéreo todas não preenchem o nome Deus. Toda conjuntura política e humana de um Estado
compõe a palavra Reino. Unidas, tais
palavras unem um Estado meramente humano ao desígnio e senhorio de um ser infinito, Deus. É como unir o céu e a terra em duas palavras, ou, melhor nos diz o
evangelho: “Faça-se a Sua vontade, assim na terra como no céu...”
A
missão da igreja para tais dias de manifestações é, sobre todas as demais,
profética... Como nos tempos dos profetas bíblicos, a Palavra de Deus soa e
ressoa em tons de denúncia social. Ainda que toda a revolução essencialmente
cristã tenha seu nascedouro nas regiões mais profundas do coração humano e,
ainda que, as transformações desejadas devam começar dentro de cada um em
particular, seria um erro permitir que tais transformações só comecem para não
continuar, para logo adiante pararem dentro do homem, ou estacionarem na
proteção de quatro paredes de um templo. Que a conversão comece! Mas não apenas
comece! Prossiga pelas ruas do nosso país
cantando os anúncios e denúncias do Reino de Deus.
Castro Lins
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