quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Alma Nordestina


Alma Nordestina

Minh’alma nordestina
Sem rumo no destino...
Sem gancho pralma rede;
Senti sede do nordeste,
Sendo gosto de salobra
Dessa água que me destes.

Minh’alma ser tão boba...
Que lá na vila ninguém negue,
Que ela na vida também segue
O vento como se o visse
E sonha como se vivesse
Cantando igual canário belga
Pelo caminho, a mais de légua.

Havia um caminho numa pedra
E pura água numa rocha,
Que dura o tempo de uma seca
E a seca o tempo de uma vida;

Minh’alma cheia inxirida
Quer a chuva e o céu também,
Pois é do céu que a chuva vem:
O céu é mar pra quem se ilude,
Pro nordestino o maréaçude...

O céu, rio doce que dá sede;
Minh’alma sede que não morre,
Procura cacimba sem tamanho
E vê no céu o rio que corre,
Te prepara pro frio banho!

E Deus disse com sotaque:
“No céu tua sede eu pus,
Mate ela, antes que te mate,
Encha o bucho com Jesus!”
Para se di dele e ele gancho
Firme para armar a rede...
Bebe alma nordestina!
E cessa seca e essa sede.


Castro Lins

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