quinta-feira, 1 de março de 2012

UM ESTUDO EM ROMANOS _ Primeira Parte



"Esse texto é uma adaptação escrita, inspirado na mensagem original
ministrada na Primeira Igreja Batista em Seropédica."


ESTUDO EM ROMANOS- Primeira Parte

Sem encontrar muito que dizer por agora, começo pela minha simpatia por alguns
livros da bíblia. Um deles, por certo, é a epístola aos romanos. E digo de
passagem que esse é um livro realmente fascinante e que desperta em mim, desde
muito tempo, curiosidade. A carta aos romanos é considerada pela maioria dos
estudiosos, um tratado, o texto mais bem elaborado, e talvez o principal, desse
personagem intrigante chamado apóstolo Paulo.

Ao
diferenciar-se bastante das demais epístolas do apóstolo, essa carta pede sobre
si um olhar especial. Nas cartas aos gálatas ou aos coríntios, por exemplo,
Paulo responde a necessidades especificas vivenciadas por essas comunidades, em
outras palavras, Paulo ensina, combate
opositores, repreende condutas, fortalece, consola... todavia o faz sempre
segundo as demandas de cada grupo, digamos, de cada igreja .
No entanto, isso
não se aplica a carta aos romanos, pois, conforme o seu primeiro capítulo,
Paulo deixa claro o seu sincero desejo de visitar aqueles irmãos em Roma, mas
isso até aquele momento ainda não havia acontecido. Enfim, Paulo escreve a uma
igreja que ele ainda não conhecera pessoalmente, de modo que esse valioso
escrito pode, mais do que qualquer outro desse autor, ser usado em maior
amplitude, ou seja, seus ensinos são fundamentais para igreja em qualquer lugar
que esta se encontre, ou sendo mais ousado ainda, em qualquer tempo que esta se
encontre. São palavras que, não totalmente, mas em parte, ultrapassam os
limites contextuais, temporais, de uma comunidade cristã.

A
carta aos romanos foi uma oportunidade perfeita para o apóstolo tratar, de modo
profundo, o que é central e distinto para sua doutrina, a saber: A justificação
pela fé em Jesus Cristo. Esse texto é de uma força tal que Paulo parece progredir
em sua elaboração sobre assuntos que são o fundamento da fé Cristã. Ele fala de
modo soberano sobre o poder da graça, a maldição do pecado, a justificação pela
fé, a ação transformadora do Espírito Santo. Paulo, como um experiente maestro,
vai progredindo mais e mais até chegar a um ponto da carta em que simplesmente
se encontra sem palavras... sem ter o que dizer. E é exatamente esse trechinho
da carta em que de repente o apóstolo emudece, perde as palavras, que
oportunamente pretendo tecer algumas simples palavras minhas.

Verso 30: “Que
diremos, pois, à vista destas coisas?” Em outra tradução talvez essa
expressão pareça mais clara: “Depois
disso, o que dizer?”

Começamos esse ligeiro estudo, exatamente no
momento em que nosso personagem principal, Paulo, afirma não ter o que dizer
diante, ou depois do que já foi dito. Propositalmente usei a palavra “afirmar”
enquanto me referia a uma pergunta, e ai está a grande ironia presente nas
perguntas retóricas, estas são perguntas que na verdade não indicam dúvida, ou,
pelo contrário, expressam uma certeza evidente. Esse pequeno trecho do capítulo
8 contém muitas dessas perguntas especiais que mais afirmam do que questionam.
De forma que o texto trata sobre certezas vitais escondidas sob a aparência de
perguntas. O texto segue, como se subindo, por sobre perguntas retóricas:

Ainda no verso 30: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será
contra nós?"
Quando garoto, vivia a tranquilidade da minha
infância até o dia em que a geladeira da minha mãe recebeu seu mais novo
enfeite, um adesivo barato que foi colado na sua porta. Nele, estava escrito:
Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Estava eu diante do meu primeiro
mistério. Desde onde consigo me lembrar, essa pergunta sempre me incomodou. Imaginei
todas as possíveis respostas para ela e só acalmei minha alma quando, aos doze
anos, cheguei a conclusão que Deus era por mim, enquanto a minha malvada
professora de matemática certamente seria contra mim. Alguns anos se passaram,
quando já adolescente fui ao cabeleireiro, de repente, olhei no recanto do
espelho e ela estava lá, havia voltado para me atormentar. Carreguei comigo
essa pergunta por muito tempo, até pensei que finalmente havia respondido- a
quando supus que o diabo seria contra nós. Eu não entendia... Não sabia que
essa era uma pergunta daquelas cuja resposta está ao mesmo tempo implícita, e
ao mesmo tempo clara como o dia.
Hoje eu entendo... que somente não há quem seja contra nós quando Deus é por nós. Isso
não significa ignorar os possíveis adversários prontos para nos fazer mal, ao
invés, seu significado equipara-se ao verso 28 desse mesmo capítulo:
“E sabemos que todas as coisas cooperam juntamente, para o bem
daqueles que amam a Deus...” Sabendo que são todas as coisas, eu acrescentaria
ao versículo: Todas as coisas, inclusive o mal, inclusive os adversários, cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus...
Perguntas retóricas existem para nós deixar
indefesos, acontecem quando nossa melhor resposta é o silêncio:

Verso 32:
“Aquele que nem mesmo seu próprio Filho poupou, antes o entregou por
todos nós, como nos não dará também, com ele, todas as coisas?”

Esse verso acima nos remete a conhecida história de
Abraão e seu filho Isaque e, mais
especificamente, ao relato que descreve o momento em que Deus pede a Abraão o sacrifício do seu próprio filho,
este prontamente se mostra disposto a obedecer o seu Deus e sacrificar o filho,
mas Deus o impede posteriormente. Essa história enfim deixa entender que se
Abraão era capaz de sacrificar o seu amado filho em favor a Deus, por certo
também era capaz de tudo fazer por amor a esse mesmo Deus. Aquele que oferece
um filho, não negaria nada mais. No entanto, quando Paulo aqui se refere a Deus
e seu filho Jesus crucificado a lógica é inversa, tudo é posto de cabeça para
baixo: Pois já não é o homem quem sacrifica seu filho a Deus, o fascínio é:
Deus que sacrifica seu filho pelo homem, e se ele, Deus, é capaz de sacrificar
o seu amado filho em favor do homem, por certo também é capaz de tudo fazer por
amor a esse mesmo homem.

Perguntas retóricas nos expõem a certezas ímpares e,
por vezes, nos encontramos simplesmente sem ter o que dizer. Talvez seja esse o
intuito do autor: roubar nosso fôlego nos expondo a verdades sem par;
(Continua)
Castro Lins

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