quinta-feira, 1 de março de 2012

UM ESTUDO EM ROMANOS - Segunda Parte






"Esse texto é uma adaptação escrita, inspirado na mensagem original
ministrada na Primeira Igreja Batista em Seropédica."


ESTUDO EM ROMANOS - Segunda Parte

Verso 33- 34: “Quem intentará
acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.

Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu, ou, antes, quem ressuscitou de entre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.”

As verdades desses versos parecem óbvias para qualquer cristão, todavia, nossa mente, sempre amedrontada pela culpa, recruta erros e acusadores a todo instante, esquecendo quem nos advoga e justifica. Taís palavras são repetidas ao longo de toda obra escrita do apóstolo de modo a torná-las centrais para sua doutrina,
porém, mesmo dessa forma esses versos, ainda, podem se apresentar como perguntas comuns, sem a retórica das perguntas anteriores, sem certezas imprescindíveis, pois, no final, nos resta sempre a escolha indelegável:
interpretar para a vida tais palavras como certezas consideráveis, ou,
simplesmente, ignorar a retórica com a incerteza recorrente a qualquer outrapergunta comum.

O texto
continua a subir, como se progredindo a um clímax. Acredito que todas essas perguntas antecedem, pronunciam e anunciam uma outra de importância última. A essa pergunta Paulo dedica mais atenção, pois, antes mesmo de respondê-la, põe- se a listar possíveis respostas erradas:

Verso 33:
"Quem nos separará do amor
de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a
nudez, ou o perigo, ou a espada?”

Paulo
provavelmente se refere às ferozes perseguições sofridas pelos cristãos de seu
tempo e, não muito menos, também a todo sofrimento que nos assola hoje. Será,
afinal, o sofrimento poderoso o bastante para nos separar do amor de Cristo?
Não é ainda nesse versículo que ele responde;

Verso 34- 35:
“Como está escrito:
Por amor de ti, somos entregues à morte todo o dia; fomos reputados como
ovelhas para o matadouro.
Mas, em todas estas coisas, somos mais
do que vencedores, por aquele que nos amou.”

O teor
dessas palavras perece mesmo fatalista, apresenta a morte por sua presença todo
o dia, como a estar sempre a nos cercar. Ao mesmo tempo o texto compara
cristãos a frágeis ovelhas a caminho do abatedouro, rumando sempre em direção a
morte. Não é nada difícil compor um tom triste a essas palavras. Se existe algo
temível nessa vida, certamente, é a morte com todo seu furor; Será ela poderosa
o bastante para nos separar do amor de Cristo?

O que mais
impressiona nesse texto é o efeito de ligação da expressão: “ Em todas essas coisas”. Pois ela faz um paralelo surpreendente entre o sofrimento e a vitória, como se ambos
caminhassem lado a lado, no entanto, nossa tendência natural é separá-los, como
se isso de alguma maneira fosse possível, e não é. O sofrimento é imanente a
vida e só quem ignora a dor do seu semelhante pode negar o sofrimento. As
igrejas inocentemente deturpam o significado desse texto quando afirmam que “somos mais que vencedores” sem antes
dizer: “em todas essas coisas”. É
justamente imersos na tristeza inamovível desse mundo, é cercados pela morte a
nos sondar todo dia, é presos a um contexto de sofrimento e dor... é em todas essas coisas, e outras mais, que somos vencedores, ou ainda, mais que vencedores por meio daquele que nos amou,
a saber: Jesus o Cristo.

Para ilustrar: Conheço a história de uma mãe
que por um longo tempo passou por muitas privações para custear os estudos de
uma filha. Ela trabalhou bastante, por vezes foi humilhada, porém, enfim chegou
o dia da formatura dessa filha, e esta fez para a mãe um lindo momento de
gratidão e homenagem... A mãe se emocionou bastante e disse:

“Se eu pudesse imaginar que viveria tamanha
felicidade e se eu pudesse imaginar... se soubesse que seria esse momento tão
especial... Passaria por todo o sofrimento que passei de uma forma diferente,
de uma forma mais firme e esperançosa, eu passaria pela dor como uma
vencedora...”

Eu devo
acrescentar a história quando digo que se nós cristãos pudéssemos imaginar... Se
nossa pobre mente pudesse conceber por um instante o que nos espera em Deus...
Passaríamos pelo sofrimento dessa vida como vencedores, com muito mais vigor e
esperança.

A esperança
que nos move por entre os pesares dessa vida é essa, como disse Karl Barth: “Do
mesmo modo que somos co- participantes das dores de Cristo, também somos co-
participantes da sua glória.”

Ou melhor
expresso pelo próprio apóstolo nos versos 17 e 18:
E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros, também,
herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos,
para que também com ele sejamos glorificados.
Porque, para mim,
tenho por certo que as aflições deste tempo presente, não são para comparar com
a glória que em nós há de ser revelada”.

Não!
O sofrimento não pode nos separar do amor de Cristo! Mas sou eu quem esta dizendo antecipadamente,
pois Paulo parece escrever um poema antes de responder a essa pergunta:

Verso 38- 39:
“Porque estou certo de que, nem a morte,
nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o
presente, nem o porvir,
Nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor.”

Chama
atenção como esse verso é iniciado com uma certeza manifesta. Antes Paulo
referia-se as dores desse mundo, agora, porém, se volta a forças de outro
mundo, a poderes ocultos, anjos, ou a avassaladora força do tempo que devasta a
tudo e a todos, mas de modo que nem estes, nem mesmo a vida com tudo que nela
há, ou a morte que varre todos os seres viventes, nem os céus ou a terra, nada
que um dia foi criado é forte a tal modo capaz de nos separar do amor de Deus,
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

A certeza do amor de Deus, talvez
a única certeza que o homem precisa para viver. E diria ainda que a nossa
existência será de uma forma muita mais dolorida se nos faltar essa certeza.
Uma amiga, psicóloga, certa vez disse que, infelizmente, grande parcela dos
problemas relacionais, das violências domésticas e de tantos casos de abusos de
todos os tipos são recorrentes a pessoas crentes que nunca foram amadas por
ninguém, diz ela. Os piores males da nossa sociedade são reflexos da incerteza
desse amor. Lembro- me da única vez que vi meu pai chorar... Percebi por traz
da sua rigidez e intolerância uma criança alegando que ninguém a amava, nunca
esqueci esse dia em que enxerguei a real fragilidade daquele homem que não
sabia se relacionar com seus filhos.

A vida é um
bem perecível, ela passa com rapidez e não volta, logo, a maneira como passamos
por ela requer toda atenção. Podemos seguir por através dessa vida como órfãos abandonados em dias maus, imersos em um mundo onde o sofrimento não pode ser negado, ou, porém, podemos caminhar por entre a vida e suas dores como pessoas amadas,
naturalmente, incertos sobre muitas coisas, inconstantes, todavia tomados pela
constatação de que o amor de Deus não nos larga. De fato, nos dias de angústia,
fome e nudez, igualmente nos dias de dúvida, ou naqueles dias em que se deseja
nunca ter nascido, por certo será a certeza desse amor que irá nos suster, irá
guardar nossa esperança e, se, de algum modo vale a experiência deste que lhes
escreve, essa certeza foi e continua sendo a que resta a ele e, por fim, o mantém
vivo!

Castro Lins


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