terça-feira, 28 de abril de 2009

Ensaio Sobre o Tempo






O tempo é o espaço entre dois pontos numa linha infinita que denominamos eternidade. Um ponto é o início, o outro é o fim. Caminhar incluso entre esses dois pontos é estar sujeito às ordens desse espaço de tempo. Da mesma forma que o ponto final traz fim ao capítulo de um livro, mas não necessariamente é o final do livro e alguns podem até supor que esse livro não tenha um fim. Entre esses dois pontos que delimitamos como espaço do tempo, podemos criar divisões até chegarmos aos menores instantes, nos quais furtivamente se vão à medida que nos aproximamos do ponto final desse capítulo.
A grande frustração humana é saber que o tempo é apenas um espaço delimitado que depois de percorrido vai acabar, e o que causa medo é não saber o que nos espera depois da linha de chegada. Será um troféu, ou vaias? Não saber qual é o começo que o fim traz consigo, essa é a fobia que faz-nos criar uma imagem sombria que chamamos de morte. A vida por outro lado, é bem manifestada e presente, assim, menos amedrontadora.
Sabe-se bem que a morte é uma ausência de vida e que a vida precede a morte, sendo assim, é provável que se porventura a morte deixasse de existir, ou como imagem do nosso medo do desconhecido ela fosse vencida, haveria vida eterna, considerando uma linha infinita. A teologia fala de um homem que venceu a morte dando fim ao fim, para que o tempo desse lugar à eternidade e não houvesse mais pontos que interrompam a vida, fazendo da mesma eterna.
Tudo leva a crer que da mesma forma que o tempo possui início e fim, tudo que se inclui nele também está sujeito à mesma ordem.Provavelmente tudo que se inclui na eternidade, onde o fim é inexistente, deve também se sujeitar a ordem do eterno. Sendo assim, podemos dizer que no tempo o mal pode ter fim e o mesmo ocorre com o bem. Já ao adentrar na eternidade, o mal (choro, dor, tudo a que possamos considerar ruim) dura para sempre, igualmente acontece com o bem (amor, paz, alegria e tudo que possamos considerar bom) dura para sempre. No tempo nos é dado o direito de escolher o início e o fim de algo, feita a escolha, ao entrarmos na eternidade não existe mais essa segunda opção.
Apesar de não enxergarmos, nosso coração parece enxergar além dos pontos e esperar desejosamente pela eternidade. Quando o tempo e o espaço roubam nossos bons instantes de tempo, parecemos nos revoltar com um sentimento cujo nome é saudade. Quando a alegria chega ao fim, logo buscamos uma maneira de estendê-la um pouco mais e se fosse possível a faríamos plena então daríamos a ela o nome de felicidade, que parece ser sempre passageira, porém a maioria dos nossos esforços nessa vida giram em torno da continuidade desse bem estar. Como bem dizem: “eu só quero é ser feliz”. Diante da dor, bom mesmo é que o fim chegue e isso aponta um entendimento prévio para alguns suicídios, mas a esperança de quem deseja o fim do sofrimento não é apenas que a dor se vá e ele permaneça inerte no universo, o que ele realmente espera é que a ausência da tristeza de lugar a alegria e que essa alegria nunca de lugar a tristeza, ou melhor, que ela seja eterna. Envelhecer é difícil, o fim em seu desconhecido causa medo. Parece que realmente fomos feitos para eternidade e ela para nós.
As histórias vivas de pessoas se cruzam num único livro suposto sem fim, algumas destas, de repente deparam-se com um ponto final. Na maioria das vezes isso ocorre com a morte de seu personagem principal. Devo convir que a morte e o fim parecem cúmplices, assim como a vida tem sua cumplicidade com a eternidade, talvez se o nosso personagem principal vencer a morte e ressuscitar, talvez o ponto final do tempo - a morte - apenas queira dizer que um novo parágrafo vem pela frente no livro da vida, ou na linha
da eternidade.
Castro Lins

Nenhum comentário:

Postar um comentário