terça-feira, 20 de abril de 2010

CEM SENTI DOR







Amar gosto de desdém,
Desde ser com respondido e
Não com responder alguém;

Amém tira de vê eras,
Só pó desmedir do
Zero ouro do sem o
A mortalha amar de ira,
Ar modelado se vê
Em choque amor tecido,
Em teias ardor Messias,
Salva dor erguido:
Aos céus olhos sempre vias
Amor tear de cruz,
Por tecido com ciente,
Se entrego ou
Ao prego ou vi da
Já anelo a que
Senti dor não faz,
O amor de existi
Por via mar -te mui tu
E de mais...

Amar gosto de desdém,
Desde ser com respondido e

Não com responder alguém.





Castro Lins



sexta-feira, 19 de março de 2010

EXISTÊNCIA EM PROVA




Existência Em Prova



As divinas poesias sagradas, uma vez me disseram: “o amor não acaba!” E se porventura acabar, só me resta crer num engano temporário: o que jaz em seu fim não é o amor, mas sim um engodo, um plágio indistinguível, bijuteria bela aos olhos mais inconsistente ao tempo, enfim, uma ilusão tola.



Talvez o amor, esse ser que nem mesmo a abstração pode apalpar, possa ser, numa tentativa quase falível, compreendido através da história de um jovem, que certo dia encontrou uma vistosa fruta avermelhada... confundida sempre a jóias, por virtude do seu fascínio e beleza exalada aos sentidos, úmida, e penetrante pelos poros da pele sedenta. Sem mais razões além do seu puro encanto, o jovem deu ao fruto um nome: coincidentemente, amor. Dias felizes como aqueles nunca mais ousaram existir, o sabor do amor é como o doce de cupuaçu, e sua cor é tão vermelha como morangos, seu cheiro cheira a chuva em terra árida, após temporadas cruéis de seca. E seus olhos, são estrelas emprestadas durante o dia, a espera da noite para voltar ao céu. O amor é a fruta da eternidade, mas só dá uma vez no ano.



Já era de se esperar... a primavera, cúmplice vil do tempo, se foi. Dias de sequidão e tempestades assombradas, trouxeram o fim para a fruta outrora acreditada como eterna. Apodrecida, a fruta amor acabou, ou será mais crível que nunca veio a existir? “impossível”, respondeu o jovem a si. Seria um tanto insano para ele negar a veracidade do amor, pois o tinha saboreado, tocado a sua face, seu gosto ainda adocicava sua língua. Seria o real assim de tão difícil distinção, ou seria a ilusão tão irreconhecível?



Certamente, nunca mais a chuva exalou seu cheiro de forma impercebida por aquele terno rapaz, suas saudades comovem as estrelas que de tristeza cadente vieram a cair em desconsolo. Ainda apaixonado, o jovem finda seu romance prematuro em pleno inverno seco, diante da saudade dos bons tempos de morangos... Porém num instante que antecede o fim, segundos, não de arrependimento, todavia prestes a convencer-se da doce ilusão... o autor da história de repente lembra que aquele jovem de coração quebradiço, personagem seu, carregava consigo algumas sementes no bolso esquerdo. Após um cômico sorriso, o autor desfecha seu pensamento sem mais rodeios: por certo o amor não acaba, ele é uma fruta que sempre deixa sementes, quando saboreada.
Castro Lins

quarta-feira, 17 de março de 2010

O ÍNSTANTE É BREVE




O Instante é Breve

É simplesmente lamentável não saber ao certo quanto tempo há, antes que a bola de sabão estoure. Sabe-se apenas que o instante é breve. Ela paira no ar, o vento por vezes a leva sem direção, esfera de cores indefinidas, plágio safado do arco-íris; e sem mais tempo para descrições... de repente ela estoura, de forma tão repentina quanto ironicamente esperada. Entre os ares, tão leve quanto breve... Não se deve negar a brevidade da bola de sabão, no entanto, ignorar os sorrisos espantados das crianças, efeito imediato, seria pura injustiça.



Suspeito que a felicidade é curta, de mesmo tamanho que a efêmera existência simplória de uma bola de sabão, num instante desaparece, porém, deixa num rosto infantil a infindável marca de um belo sorriso. Juntaram-se os lábios para um sopro delicado, foi quando Deus soprou nas narinas do homem... Cada vez maior a bola, maior ainda o suspense, o encanto... Quando a bochechas inflam e o ar úmido corre como um rio entre os lábios, as pessoas descobrem o fôlego exigido pela felicidade, ousadia de soprar cada vez mais a despeito do previsível estouro a por vir.



Engraçadas bolas de sabão, fazem rir apenas alguns poucos bobos adultos agraciados, e as crianças de olhos virgens... essas tentam agarrar-las veementemente antes que caiam e estourem no chão. Hoje nós, Senhoras e Senhores, quão mais infelizes, pois enfim, pouco sabemos rir das bolas de sabão da vida, essas mesmas de vã existência colorida, perdemos a graça, a qualidade de rir do ridículo, do transitório belo. Na medida em que a vida amadureceu, nossos olhos, outrora virginais, foram violentamente violados e aprenderam a chorar secas lágrimas que não sabem para onde escorrer. A felicidade dura instantes, ou até metade de instantes irrisórios, merecedores de longa gozação. Essa razão leva as crianças a soprarem uma bola após outra, sem descanso, sem a duvidosa importância com os futuros prévios estouros.


Quanto tempo há, antes que a bola de sabão estoure? Não imagino uma resposta... Vi uma criança a sorrir, apenas isso importa saber.

Castro Lins

domingo, 7 de março de 2010

IPÊ



Jequitibá!
Forte gemido da noite,
Jequitibá!
Vento vozes e açoite...
Jequitibá!
Já cheia a lua caiu,
Jequitibá!
Nascente estéril hostil,
Jequitibá!
Já morta o mar lhe engoliu.
Jequitibá!
Naus noite negra escura,
Jequitibá!
Derramas sombras sangrentas
Jequitibá!
Cai como fruta madura,
Jequitibá!
Tua cor é a noite cruenta.
Jequitibá!
Olhos de sono atormenta,
Jequitibá!
Aurora, o sol logo nasce...
Jequitibá!
Já és Morta a noite que jaz
Jequitibá!
Como se alguém lhe açoitasse,
Jequitibá!
Desconjuntasse a vida tenaz.
Jequitibá!
Lindo claro dia a nascer;
Jequitibá!
A negra noite a morrer...
Jequitibá!
Suas flores por folhas caídas:
Ipê!
Em sou tronco jaz outra vida.
Castro Lins

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

CHEIRO DE CHUVA...


Cheiro de Chuva

És tu que cheiras a chuva...
És tu videiras e uvas...

Campos de sorrisos vastos...
Vem forte vento sul,
Sem dó dobra e deita os pastos,
Doce como cupuaçu...

Cheiro de chuva és tu...

És tu que a chuva cheiras...
Umedece a árida alma,
Bêbada a ávida fauna
Chora vinho em cachoeiras.

Inunda o sertão afunda,
Manga por ser tão linda,
Tomba o sol como pitomba,
Cai e a semente sol vinga...

Foi quando o novo dia nasceu
Pra logo a tarde morrer...
Sede, sinto o cheiro seu,
Chora o céu, volta a chover.

Castro Lins

sábado, 23 de janeiro de 2010

Desceu ao Hades


A professora de português acabara de entrar na sala... Lá vinha ela com seus exercícios chatos sobre orações coordenadas e análise sintática. Fui sinceramente incapaz de perceber alguma utilidade naquelas aulas. Ela passou de mesa em mesa, distribuindo cópias de uma folhinha que conquistou minha atenção pelos versos e minha antipatia pelos posteriores exercícios. Depois daquele dia, guardei comigo aquela folha de A4 por alguns bons anos. Por fim, envelhecida, ela amarelou. Hoje, ao lecionar, vejo-me com o dever inquieto de repassá-la:


Oração Sem Nome


O autor desse poema, quem o sabe? Foi encontrado em pleno campo de batalha, no bolso de um soldado americano desconhecido. Do rapaz estraçalhado por uma granada, restava apenas intacta esta folha de papel:


Escuta, Deus:
Jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te. Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram-me que tu não existes,
E eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado tua obra.
Ontem à noite, da trincheira rasgada por granadas,
Vi teu céu estrelado
E compreendi então que me enganaram,
Não sei se apertarás a minha mão.
Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo
Achei a luz para enxergar o teu rosto.
Dito isto, já não tenho muita coisa a te contar:
Só que... que... Tenho muito prazer em conhecer-te.
Faremos um ataque à meia-noite.
Não sinto medo.
Deus, sei que tu velas...
Ah! É o clarim! Bom, Deus, devo ir embora.
Gostei de ti... Vou ter saudade... Quero dizer:
Será cruenta a luta, bem sabes,
E esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta!
Muito amigos não fomos, é verdade.
Mas... Sim, estou chorando!
Vês, Deus, penso que já não sou tão mau.
Bem, Deus, tenho que ir.
Sorte é coisa bem rara:
Juro, porém: já não receio a morte.



“As mais belas orações de todos os tempos”



É difícil, e ao mesmo tempo curioso, entender o que aconteceu com esse soldado. Quando se caminha pelas veredas do inferno, a última pessoa que esperamos encontrar é Deus. Esse encontro foi no mínimo surpreendente. Estive a refletir um pouco sobre a vida e suas dores: Há um enorme sofrimento, tanto quanto o azul suave do céu, ambos, sobre nós.

A uma certa idade, a criança depois de muito chorar e mesmo assim ser ignorada, cessa o choro e tenta, sozinha, solucionar os seus conflitos. A dor dos escombros de um mundo em pedaços fez muitos enxergarem apenas uma ausência no espaço reservado a Deus. O resgate não chegou, elas tentaram sozinhas sair das ferragens e tratar dos ferimentos da vida. Para muitos envoltos a fatalidades quase infernais, o diabo ou qualquer outro ser que represente uma angústia ou dor, faz-se mais crível que o próprio Deus.


Eu era mais um adolescente brasileiro, perturbado com minhas cotidianas crises depressivas, quando a guerra hedionda violentava as terras do Iraque... Com uma personalidade ainda incompleta, limitado para entender aquilo tudo, eu apenas chorava sobre a beliche do meu quarto de internato. Foi quando decidi, robótico, comparecer àquela inútil aula de português. Entre as orações coordenadas, interessou-me substancialmente aquela “Oração Sem Nome”, de autor desconhecido.


Sei que posso parecer irracional, todavia, por mais irônicas que sejam minhas palavras, estou certo de que, por entre o sofrimento, Deus pode revelar seu amor; e, se fosse diferente, creio não haver necessidade de uma cruz e um Deus pregado nela. Devo convir que Deus não retira de nós em totalidade a dor a qual estamos sujeitos, ao invés, Ele sujeita-se a ela junto a nós, de livre vontade. E, se antes Deus parecia distante, ausente de toda confusão e calamidades que vivemos, a ponto de alguns negarem sua existência... agora, Ele parece próximo, imerso nas mesmas dores, fazendo sua existência tão clara quanto à existência de um Pai protetor em tempos de guerra. Provando a todos que quiserem tocar nas feridas de suas mãos, que Ele é mais que a figura invisível de um fantasma, e tão real quanto eu e minha carne que sofre. Provando Sua presença no escorrer de cada lágrima salgada... Na solidão, talvez a me ouvir na cama de cima da minha beliche.



Havia um filho, criminoso, destinado à prisão, e um pai justo empenhado, até o fim, a manifestar seu amor pelo filho. Ele tinha o poder de interferir nesse destino doloroso do filho e negar a justiça, ou, simplesmente, deixá-lo sofrer justamente pelos seus erros. O pai resolveu perdoá-lo sem reservas, todavia não interferiu nas consequentes aflições recorrentes aos crimes de seu filho. Por fim, de livre escolha, o pai resolve tomar para si o mesmo lastimoso destino do filho; ambos, juntos, foram presos e aguardavam em meio a aflição do cárcere, o dia da justa liberdade. Essa foi a forma pela qual o pai escolheu manifestar seu amor. Não creio que Deus seja limitado demais, frágil ou fraco para deter as sombras do sofrimento, penso apenas na melhor e mais justa forma para manifestar tão eminente amor.

O que o jovem Michael conhecia da vida era apenas uma face deteriorada: os abusos do padrasto, a pobreza, as drogas, o suicídio. Ele, outrora, nunca poderia ao menos imaginar os compassivos negros olhos, de tom semelhante à cor da pele, daquele senhor que conheceu na noite da sua horrível overdose. Após sucessivas dores mórbidas, Michael estava caído, febril, em qualquer calçada, quando o senhor Jonas colocou-lhe em seus ombros largos e o levou para sua casa - um banho quente e também alguns antitérmicos, um forte café e um suave pão. A dor deu a Michael a oportunidade de experimentar o aconchego de um lar onde mora até hoje e, sobretudo, Michael ganhou um pai naquela noite.

A despeito dos jardins e suas flores, sorrisos infantis inspiradores, da esperança bem protegida que guardamos na alma... A despeito do belo, todos os que choram testemunhariam contra minhas palavras se eu ousasse insinuar um pleno estado de felicidade nesta vida; na verdade, o que temos são relâmpagos, clarões de luz numa noite escura e tenebrosa. E, se mesmo assim, houvesse múltiplas razões para sorrir, meu sorriso perderia a cor desbotado pela lágrima de algum aflito. Apenas se vivêssemos numa bolha, isolados da realidade, apenas assim, poderíamos pregar um pleno estado de alegria nesse mundo, mais parecido, no entanto, com um conformismo covarde. Quero dizer que é simplesmente difícil sorrir enquanto muitos choram.

Mesmo que as estrelas nos apontem a felicidade, somos como aquele simplório soldado contemplando o céu de uma trincheira rasgada por granadas. E a seriedade cômica consiste exatamente nesse inferno hediondo, lugar esse onde o Pai reside, apenas para estar próximo de seus filhos. Ele nunca abandonou os presídios, senzalas, campos de guerra, favelas, escombros, o escuro sombrio do meu quarto... Ele nunca nos deixou à mercê do acaso. Sua presença comprova- se em seu amor e consolo entre os prantos do dia a dia, em sua escolha cega pelos excluídos e feridos dessa funesta guerra da vida. Deus não escolheu a dor, antes, sujeitou-se à mesma dor que nós escolhemos. Deus não escolheu a morte, porém entregou-se à morte destinada a nós. Essa é a prova incontestável, não somente de sua existência; além do imaginável, é o veredito da sua compaixão... Certo disso, em partida para a cruenta luta à sua espera, o soldado encerra sua oração: “Juro, porém: já não receio a morte”.

Castro Lins



Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face?
Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também.
Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.( salmo 139)



Em qualquer lugar no espaço, Deus permanece com seus filhos... ainda que soterrados entre os escombros de um terremoto. Deus Abençoe o Haiti!

22/01/2010

sábado, 9 de janeiro de 2010

VIVOS

A morte roubou lágrimas de Deus! Jesus chorou ao ver o sepulcro do amado Lázaro. A vida roubou lágrimas de um homem, foi quando a morte se fez mais preferível que a vida; todavia, da vida sabemos da dor pertinente a ela, da morte nada sabemos... essa relação, para alguns, é um risco sensato, daí a morte é uma aposta no mínimo coerente.

Em dias de fome e desigualdade entre os homens, uma mulher foi impelida a prostituir-se para alimentar seus irmãos ainda crianças. Alguém lhe indagou com furor: “ o que te impede de lançar-te daquela ponte, para que o feroz rio recolha tua vida e leve em suas águas todo o teu sofrimento?” Ela chorava, e não sabia responder-lhe. Ele olhou para a velha cama ao seu lado e viu uma bíblia sobre os lençóis, de repente, já com as escrituras sobre as mãos, esse jovem homem insiste para com a moça imperativamente: “leia para mim sobre a ressurreição de Lázaro!” Assim ela o fez, e o capítulo chega ao fim com a seguinte e literal frase: Lá estava... “ uma prostituta e um assassino diante das Escrituras Sagradas.” Esse breve trecho do livro “Crime e Castigo” de Dostoiévski, mostra em sutilezas a violência e dor pertinente a vida. O jovem assassino teve sua resposta, não proveniente das palavras da mulher, pois talvez nem ela mesma sabia ao certo o que a sustentava viva. A resposta que ele procurava estava sobre a cama, bem ao seu lado.

Quando assolados pela sombra do suicídio, na busca do alivio das dores do mundo, percebo o quanto Deus é a única base solida, sustentáculo, que faz da vida ainda mais preferível que a morte. O alívio incerto que busca-se na morte, encontra-se, indesviavelmente, em Deus.

Jesus Atrai para si de braços estendidos e olhos fechados em amor... suicidas, prostitutas, assassinos, publicanos, ovelhas perdidas, pobres, doentes... Todos encontram nele o perdão de seus crimes, e consolo de suas almas torturadas brutalmente pela culpa. Todos inclusos, assentados ao redor das escrituras, como famintos em busca de pão numa mesa farta, como mariposas atraídas pela luz sedutora. “O cristianismo - ponderou Nietzsche - tomou o partido de tudo que é fraco, vil e malogrado...” Talvez suas mentes não saibam ao certo responder o que os sustenta vivos, mas convêm saber... que neles há vida mesmo cercados pela morte, marcham a caminho da felicidade mesmo em prantos.

A morte ainda hoje rouba lágrimas de Deus, no entanto Jesus trouxe Lázaro de entre os mortos, pois enfim Ele preferiu a vida, e acrescentou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim ainda que morra viverá.” Depois de tanto procurar a resposta... agora sei o que ainda me mantem vivo!
Castro Lins