domingo, 29 de novembro de 2009

APENAS LOUCURA


Talvez o visível limite que separa o normal e o patológico, seja apenas uma linha feita a giz, e bem fácil de ser apagada com as mãos.

Mesmo ainda bem distante de uma interpretação plena, minha velha memória ainda é capaz de folhear um intrigante livro que li em minha adolescência. Lembro-me bem do renomado médico que recolheu, ou melhor, encarcerou, em sua casa de tratamento, grande parte de uma cidadezinha do interior do Rio do Janeiro, conforme justificativa sólida de um diagnóstico de loucura. Cômico pela aproximação da realidade, o fato que qualquer anormalidade, ou atitude incomum, era um incontestável sintoma de insanidade.

No fim do afã da caça aos loucos, ao “Alienista (1) ”, restou apenas, uma única e decisiva análise pelas profundezas de sua própria mente. Depois de muito averiguar... nada encontrou, nenhuma anomalia, nem se quer um sintoma para fazer-lhe um insano, nada anormal, apenas o fato dele diferenciar-se de todo o restante da cidade. Diante de tantos doentes, ele percebeu sua plena sanidade, isso fez dele diferente, isso fez dele um louco! Por fim, o próprio internou-se.

Num mundo de mortos, respirar é um ato de loucura. Porém é inaceitável se dizer o mesmo, ou defender esse vil diagnóstico, num mundo de vivos, onde respirar é extremamente comum. De qualquer forma, tudo que se difere da força maior, ou da maioria, atribuímos como insanidade.

Minha memória mesmo que por vezes furtiva, agora me fala sobre outra obra clássica: Quando envolto a traições, diante de pessoas que levam a nada o valor da vida na fome pelo poder.... Perante esse quadro de traços fúnebres que o pintor deu o nome, humanidade... Não é possível, e não creio que o louco dessa estória seja o jovem Hamlet (2). Sua loucura era apenas revoltar-se contra – como o próprio pronunciou - “esse mar de calamidades” que os sensatos ainda ousam chamar de vida. Estando preso a essa minuciosa obra de traições e morte, que homem sensato não se revoltaria? Obra essa, nada mais que uma réplica imperfeita de uma realidade ainda mais fétida.

Sempre senti diante da vida – esse quadro fúnebre – a mesma insatisfação de Hamlet, e as mesmas dúvidas. É quando o mundo impõe com furor o “ser”, mas o pouco de sensatez que nos resta aconselha “não ser”. Ser, ou não ser? Diante das dúvidas e calamidades da vida, a morte parece ser a única a apontar um caminho. Todavia como o próprio Hamlet deixa claro nesse parágrafo citado (3), a morte é apenas outra pergunta, uma insegurança, não há certezas, assim deixa de ser uma alternativa.

Alguns como Hamlet, apenas incertos diante da morte, ou aqueles teimosos o bastante e insistentes em rejeitar as formas e formas da vida, ou do mundo, não se deixando moldar; esses inconformados são aqueles a quem os homens chamam de loucos, cuja única alternativa sensata é não se conformar, não se fazer um mero produto. Em seus corações, são construtores da cidade fortificada de Canudos, imunes ao sertão, fazendo dele e da morte aliados e nunca entregues as forças e as forcas que os cercam.

Sem orgulho algum, percebo que desde adolescência temi a loucura. O medo que nossa vida seja uma literatura infantil de patinhos feios, nos faz aceitar, ou conformar-se, ou melhor, formatar-se a todo esse mar de calamidades e misérias que já não irritam os olhos, pois o homem aprendeu a indiferença... Sim! Na verdade era essa palavra que procurava para melhor me expressar: “indiferença”... Afinal ser diferente é sinônimo de loucura e rejeição, e quando uma vez entregue a desenfreada busca pela aceitação, fazendo-a vital, indispensável, necessariamente opta-se pela indiferença. Homogêneos indiferentes!

Perante os senhores dos homens, doido é aquele ao invés de fazer da breve vida um momento de conforto - como essa pessoa não sabe o que faz – resolve revolutamente confortar a outros. Loucura é acreditar nos sonhos, ao ponto de vivê-los na realidade. Poucos como Dom Quixote, são insanos o bastante para acreditar que os heróis ainda vivem. Poucos são tão ausentes da realidade, na medida suficiente e devida, para crer na honestidade, coragem e amizade. Loucos porque ainda vêem donzelas e ouvem a voz do horizonte, convidando-os para eternidade. Alguns poucos como Dom Quixote ainda sabem acreditar com tanta veemência, tanta... que sua fé envergonha nossa religião materialista e sem sonhos.

Sábios loucos, sabendo que lhes falta um parafuso na cabeça, decidem não ouvir a maioria. Alguns não têm ouvidos para os próprios pais, alucinando um dever a outra paternidade que julgam divina, e depois de alguns risos... caminham descalços sem suas quatro rodas, como fazem os loucos, buscando a felicidade em lugares bem distintos das vitrines e caixas eletrônicos. Talvez esses doidos encontrem a Deus, entretanto, certamente não encontrarão o deus lógico da humanidade sã. Lunáticos de olhos fitos no longe céu e suas estrelas, a procura de um Deus além... Além dos delírios esquizofrênicos humanos, mais que uma doce ilusão confortável, um ser real aos sentidos, um Deus dos loucos.

No que é pertinente a respeito desse Deus, sabe-se que sua loucura foi diagnosticada pelos alienistas do dia a dia, afinal, esse Senhor, simplesmente ausentou-se das lógicas e não se submete a tradições e culturas, sendo assim, era de se esperar que todo aquele, Deus ou homem, que escape das fronteiras do entendimento humano, venha a ser, de maneira incontestável, nada mais que um louco. A sabedoria dos homens, pobre e frágil, e apesar de tantas tentativas, foi incapaz de abraçar esse Deus com seus braços curtos, então decidiu expeli-lo como a um organismo estranho em seu corpo.

Foram dadas mais chances de aceitação a esse Deus, as sagradas religiões construíram toda uma cultura ao seu redor, e foi inútil! Seus rituais já não o agradavam mais e suas gaiolas não puderam prendê-lo em seus manicômios, como normalmente se aprisiona os loucos.

A religião é como a tola criança obstinada a agarrar o sol com a mão, o adulto sábio, todavia, já é grato pela luz que o sol lhe envia, luz que aquece e dá sentidos aos seus olhos. O sol não foi feito para ser entendido ou tocado, ele nasce para encantar, alegrar, dar vida, e se põe para os homens esperarem sua volta, para que sintam saudades.
A teologia é a criança tola que mais parece cega na tentativa de fitar o sol.

Diferentes do Deus louco, existem os deuses considerados normais; estes são como animais outrora selvagens, agora domesticados que ao menor comando do homem cantam como passarinhos, ou mordem como cães raivosos. Deuses cuja lógica humana explica com maestria perfeita quem eles são, e os rituais prevêem fielmente suas vontades, dessa forma foi fácil manipulá-los. Enfim, a humanidade compreende esses deuses, tanto quanto compreende os próprios homens. Assim talvez se possa criar uma nova definição para loucura:


Loucura vem a ser tudo aquilo que o homem não pode manipular, inclusive Deus. Deus é loucura, assim fez-se Deus apenas dos loucos crentes nessa loucura pregada e, somente esses acusados por ouvirem vozes, possuem ouvidos sensíveis para ouvir sua límpida voz. Só os lunáticos que vêem o invisível, deslumbram a eternidade quando olham o horizonte. Só, apenas e somente os enlouquecidos livres, tornam-se, em virtude da sua insanidade, escravos do amor e tiram as sandálias para caminhar. Só os hamlets desses dias, são capazes de não se conformar com esse mar de calamidades e se chocar contra suas ondas furiosas. Apenas aos quixotes sonhadores, foi dada a fé que remove as montanhas. Loucura o desconcertante confronto de meras idéias... é o intangível Deus descalço a caminhar por entre os homens, em instantes... o mesmo Deus em simples desenho aos traços de uma cruz, seu amor define a loucura!

Sem temer os manicômios e os alienistas, revelo-me louco, e o que prego em palavras presas ao papel não poderia ser mais que pura e apenas loucura.

Castro Lins



“Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós que somos salvos, poder de Deus. (...) aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios.” Apóstolo Paulo (I Coríntios 1: 18-23)



1-Referência ao livro “O Alienista” de Machado de Assis.

2-Referência ao livro “Hamelet” de Willian Shaskespeare.

3-Décimo nono parágrafo, contido no Ato Terceiro, Cena I do livro “Hamlet” de Willian Shaskespeare.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Surpreendente Descoberta



Assim disse Rubem Alves (paráfrase): “Na maior parte do tempo somos inconscientes do ar que nos dá vida, mas quando prestes a nos afogar ele é a única coisa que nos vem à cabeça”.

Algumas descobertas são como engrenagens capazes de deter, por alguns instantes, os ponteiros giratórios do nosso relógio da vida, todavia elas não podem pará-los. Já diziam que o tempo não pára, ou que a vida é breve, mas é intrigante, a meu ver, o quanto que uma “simples” descoberta pode causar mudanças não tão simples na vida de alguém. Falo a respeito da pessoa que de repente descobre em si uma doença terminal, para alguns, a partir desse momento a vida muda todo o seu curso anterior. No entanto, a descoberta que “somos pessoas terminais” não é motivo de surpresa, a convir que essa é uma simples descoberta mesmo quando tardia, isso por ser uma verdade irrevogável. As doenças são apenas lembretes colados em nossas geladeiras, quando inoportunamente eles nos chamam a atenção, percebemos algo escrito em letras grandes: “SOMOS TERMINAIS”.

O que mais intriga é saber que a percepção de que a morte se aproxima, ironicamente, nos lembra da vida outrora ignorada, e nesse instante até adjetivos são outorgados a ela : breve, curta... Os valores invertem-se, e a forma de medi-los já não é a peso de ouro, ou a leves notas de papel. Agora o que está cotado em alta é o valor das pessoas... Sem motivos ou apelos emocionais, passamos a indagar a existência de um Deus... Ao pôr do sol, o furtivo entardecer deixa a nós uma saudade nunca antes sentida... Tudo isso deixa entender descobertas já não tão simples como a anterior, surpresas para além do ordinário. A descoberta da vida é surpreendente, não a da morte! Todavia a relação entre ambas é indissociável, necessita-se antes do inadiável término dessa vida, saber a verdade que “somos terminais”, e se assim o for... a vida deixar-se-á ser encontrada antes da morte, e talvez, simplesmente permaneça após ela, na surpreendente descoberta da vida eterna

Castro Lins

domingo, 1 de novembro de 2009

Onde está a mudança?



Um alguém cujo nome já não me recordo, contou-me algo curioso:
"certa vez uma ousada jornalista resolve entrevistar Martin Luther King em meados de seus protestos pelo fim da discriminação racial nos EUA. A intrépida jornalista diz, (paráfrase minha):
-Senhor Martin, qual a real validade de sua luta em favor dos negros do nosso país?Pois mesmo depois de tantos feitos e protestos... ainda não conseguimos ver resultados, os negros continuam tão discriminados e oprimidos quanto antes, enfim, onde está a mudança? Então ele respondeu com uma serenidade quase esmagadora:
- Tens razão senhorita, até agora só conseguimos mudar alguns corações.
Um dia disseram-me, que eu não devia me conformar com esses tempos maus. Entreguei-me a minha empolgação alternada com horas de desesperança, na tentativa um tanto falível de mudar o mundo. No fim acabo por perceber o quanto fui mudado, é irônico, mas na verdade... quem mudou fui eu. Perguntaram-me: "Onde está a mudança?"A
penas sei que não sou mais o mesmo.
Castro Lins

domingo, 25 de outubro de 2009

Carta - um pouco sobre palavras e amor


Carta - um pouco sobre palavras e amor

Cartas me lembram romances, boas novas e seus mensageiros. Jesus é uma carta de amor, o Verbo, que o próprio Deus escreveu a punho e endereçou aos homens. E dentro desse romance sem igual, nós – falo a cristãos - somos simplórios carteiros, cujos pés são formosos por anunciar esse amor. Não menos importantes na história, pois também somos os amantes e filhos aos quais o Noivo e Pai destinou essa correspondência que cruzou os céus e os tempos até chegar aos nossos pobres ouvidos, e até infiltrar em nossos, outrora, petrificados corações.

Não sei se diante de ti, leitor, já pude justificar minha carta – é o que estou tentando fazer até agora. Permita-me agora escrever uma carta de amor, como se esse computador fosse pluma negra e sua tela meu papiro. Como se o amor estivesse mais perto do que longe, e mais real do que parece... Sinto-me a vontade quando escrevo, as palavras me cercam, protegem-me, estando elas sempre sujeitas não a minha vontade apenas, mas aos meus vivos e involuntários sentimentos, esses, na maioria das vezes, não se sujeitam ao meu querer. Eles são carregados nesse trem de palavras como uma longa locomotiva que percorre os montes e as horas, viajando até encontrar os desejados olhos da menina, a afortunada na qual os sentimentos e palavras se destinam ainda informes na mente do poeta. Cartas... elas sempre são seladas pelo receio por não poder estar ao lado da pessoa a quem as mesmas são destinadas. É como uma falível tentativa de alterar um destino presente, ou um alento para melhor aceitá-lo. A distância entre seres cuja proximidade fez-los um ser somente, que lógica pode explicar essa desventura da vida? Ainda teimo em aceitar mesmo a mais racional das respostas para essa pergunta.

Assim, resta apenas as cartas e seus perfumes de aromas para os olhos, essas narinas sensíveis da alma romântica. Não sei da minha engenhosidade para escrever uma carta, todavia algo me diz em voz sem som, internalizada, incomodando-me e creio que devo começar assim: “Mando a ti minhas palavras que escolhi com o mesmo carinho de quem colheu vistosos e vermelhos morangos. Palavras carregadas desse involuntário sentimento. A elas não existem longos percursos, nem pedras no caminho, elas sabem voar como um pássaro mensageiro, e sem tardar, logo não serão minhas palavras, serão unicamente tuas. Um presente, pois é para ti meu verso. Sabendo disso, implorei ao Senhor Logos seus mais preciosos verbos, os quais são desconhecidos dos dicionários. Palavras mágicas que falam mais do que dizem, e dos desapercebidos roubam lágrimas. Apenas um destes tais verbos mágicos visto aos olhos, corresponde a diversas e milhares de palavras postas em sonetos,cujas métricas não suportam tamanho amor quando visto ao coração.

Tenho comigo alguns bons verbos destes, e te ofereço. Eles são presentes do Senhor Logos, em virtude, são de indescritível valor. Agora peço para que feche os olhos e tente ouvi-los, não há tinta que os transcreva. Tu precisas senti-los, é mágica! Todavia devo adverti-la que para lê-los é preciso conhecer em profundidade a língua dos loucos apaixonados, é importante que se vá a sequidão das lágrimas. Língua de sobremodo mais prefeita que o dialeto dos anjos. Língua que o próprio Senhor Logos trouxe a existência e fez questão de ensinar aos homens que tinham ouvidos para ouvir.

Devo confessar que ainda estou sendo alfabetizado nessa língua, mas já aprendi soletrar teu nome para fazer-te mais perto de mim. Clarice Lispector na tentativa de graduar-se nessa língua, disse certa vez: “A palavra é meu domínio sobre o mundo...” Na verdade, creio que a palavra exerça um domínio sobre mim, pois para aquela capaz de dominar um mundo, com menos esforço dominará um homem. Quero dizer apenas que desconheço a forma de escrever o que sinto por ti, – mau escritor de cartas sou - simples palavras não suportam tanto, então procuro por socorro nas palavras mágicas que o Senhor Logos incumbiu-me de guardar. Deves entender que elas não são escritas com tinta nem presas a mal traçadas linhas, são tatuagens eternizadas nas menininhas dos teus olhos, apenas eles,teus olhos, podem lê-las agora, se assim tu desejares. Só nós podemos soletrá-las e somente só a nós, cabe seu significado. Se fores capaz de acreditar nessas minhas palavras, esse é o sinal vivo que elas existem e não são uma alucinação de minhas loucuras, e já mais real ainda são essas emoções que elas, em sua magia, carregam consigo.

Clarice Lispector entendeu bem a semântica dessa língua quando diz: “Ela acreditava em anjos, por acreditar, eles existiam...” Verdades tornam-se de verdade apenas na mesma medida da nossa fé. Deixa-me tentar ser mais simples... Dou a ti minhas preciosas palavras mágicas, poderosas o bastante para romper o tempo e o espaço criando um caos a olhos de outros, mas uma primavera de morangos a sua destinatária e seu remetente.. O que elas dizem? Não me faça essa pergunta! Depende do que teus olhos vão ler. O destino sujeita-se agora as vontades da destinatária, o mesmo ocorre com o tempo. Bem sei que tenho amado na conjugação do “presente”, afinal, não sabes que o amor sempre é? Pois foi a eternidade a primeira a conjugá-lo dessa forma, e a partir do tempo em diante o homem tem cometido muitos erros de conjugação.

O débil ser humano, não entende que o amor as vezes se cansa e parece em constante mutação... mas nunca deixando se perder o que ele é, e apenas acrescentando, ou crescendo – seja como melhor tu possas entender - mas sem deixar nada no passado. De modo que nada se perde, não se substitui, apenas se uni de forma semelhante a uma construção. Talvez eu me faça entender com um exemplo: Quando falo de um amor que embriaga a alma de dois seres, um homem e uma mulher, mas que outrora, o mesmo amor fazia-se nos moldes esculturais e lindos da amizade entre esses dois seres, uma menina e um menino, refiro-me então ao amor que cresce junto com eles em metamorfose, e já em maioridade expressa-se ainda mais profundo e avassala um ao outro de formas distintas da infância suave entre amigos. Todavia esse amor nunca nem se quer cogitou deixar de ser a amizade de tempos anteriores, nele nada se tira apenas se recebe, por isso nada nele deixa de ser.

Enfim, depois de tudo exposto diante de nós nessa minha, talvez não tão clara, carta. Suspeito que podes até achar que não estou a ser sincero, já me peguei pensando isso também. Concordo em suma com o caro Fernando Pessoa quando o mesmo diz “ ser o poeta um fingidor”. Contudo, dessa forma seja o sonho também um fingimento! Pois ele não é real, estando tão longe da matéria. Dentro do que creio ser real, estão os sonhos junto a muitas outras coisas que não posso ver... “

Essa carta é tão real quanto os sonhos são. Se destina aquela menininha dos olhos, invisível, contudo bem audível, de forma que sua voz é única capaz de ler tais palavras mágicas que o Senhor Logos recitou aos ares e deu a mim em secreto. Essa menina é tão real quanto os sonhos são, ou quanto eu possa acreditar neles... Sobre palavras... sei apenas que de extremo valor são as palavras que nos ajudam a entender quem somos, sem iguais são aquelas que nos ajudam a entender quem Deus é. Sobre amor ... apenas pelas palavras mágicas pode-se escrever em veracidade a seu respeito. Sobre cartas... feitas de palavras postas em seu papel. A carta sou eu, feito de palavras, porém postas em minha carne. Ambos – a carta e eu - apenas meros veículos do Verbo... que as vezes falam palavras de amor.

Castro Lins

domingo, 11 de outubro de 2009

Medidas da alma



Medidas da alma

Bem já não sei de minha alma estatura,
Em salto da planicie cai nos montes;
A vil presa alma escrava alucinante,
Fita o Hades lá dos Andes em loucura.

Vejo ondas fundas tomba os horizontes,
Vi vil morte na vida, mal almejo
Fim das miragens crônicas que vejo,
Imortais mais desta hora, embora de antes.

Trevas traga o poeta triste, espéctro
Jaz a letra erro métrico...soneto
Faz medida da vida a cada metro;

Acenas os poemas imperfeitos
Com despeito patético e enfim tétrico,
Alucinas a rima antes do leito.

Castro Lins

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Prece


Tu ó Deus!
Que nos céus habita,
Diga-me:
Entre milhares e centenas
A estrela mais bonita,
Para que se escreva um poema
A alguém... longe, porém
Ainda posso vê-la...
Poema fez-se o tema:
Um menino amando uma estrela.
No firmamento
Onde distante mora,
Da noite seu enfeite,
Dorme quando acorda a aurora;
Todavia,
Todo fim do dia,
Esse teu filho
Uma estrela namora,
Encantado com tanto brilho
Que pela manhã vai embora.
Ó Deus! Perdoa meu afã,
Entre os ares
Queria voar,
Cruzar lindas estrelas em milhares,
Mas apenas uma beijar.
Deus que anda sobre os mares,
Ensina-me sobre o céu caminhar.
Deus meu!
À distância e o amor
São de mesmo tamanho;
Deus! Bom pastor,
Ouve este do teu rebanho;
Teu doce favor
Aquele de repente...
Dedo teu, o céu balança.
Sonho meu, a estrela cadente.
E vindo...
Eu possa sempre tê-la,
E quando sorrindo... ela
Ainda terá brilho de estrela...
Estrela bela,
Sol, mesmo longe aquece.
Assim seja Querido Deus!
Essa é minha prece...
Castro Lins

sábado, 19 de setembro de 2009

Jesus aplicando EBI*!


Texto Bíblico: Lucas 10: 25-38


Jesus estava a caminho de um certo povoado, onde habitava uma certa mulher chamada Marta ( v38). Podemos supor, que durante esse percurso Jesus tenha sentado-se por alguns instantes sobre a sombra de uma bela árvore. Por que não imaginar que ele e seus seguidores fizeram um círculo para se olharem face a face? E como Jesus era sempre chamado de Mestre (v25), é bem provável que estava na maior parte do seu tempo ensinando. Os ouvintes - pelo menos alguns - eram pessoas íntimas do conhecimento(v25), pessoas cultas ( mestres em interpretar) que não deviam aceitar nada sem questionamento. Alguns com motivações duvidosas(v25), mas não se pode negar o interesse destes em conhecer mais sobre aquele homem intrigante. De repente eis o nascer de um diálogo e alguém do grupo levanta o braço com o dedo apontado para saciar sua questão: Mestre que farei para herdar a vida eterna?(v25)

Através do diálogo, Jesus naturalmente inicia seu estudo com uma pergunta de observação das escrituras: Que está escrito na Lei? Dando seqüência ao estudo, Jesus agora faz uma pergunta de interpretação das escrituras: E como interpretas?(v26). E como as perguntas de observação são sempre as mais fáceis, é só observar o que está escrito: “Amarás o Senhor, teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma, de todas tuas forças e de todo teu entendimento; e: amarás teu próximo coma a ti mesmo”(v27). Ironia Jesus pedir uma interpretação para uma autoridade em interpretar, um interprete da Lei. O mesmo, tentando justificar-se, fez uma nova pergunta: Quem é meu próximo?(v29). Jesus na posição de dirigente do grupo, resolveu usar um método de EBI criativo e propôs um historinha relacionada ao cotidiano da época e a realidade do seu grupo.(v30-35 )

Por fim, Jesus na intenção de trazer seu estudo para um âmbito pessoal da vida do grupo, termina seu estudo com um pergunta de aplicação pessoal quando integrada com a seguida resposta: "Qual destes três parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?"

E o intérprete responde: "aquele que teve de misericórdia com ele."

E como sempre ocorre no fim dos EBIs, sempre tem uma recomendação, citação, ou uma frase que confronta e nos faz refletir na vida, Jesus Diz: “Vai e procede tu de igual modo”.

Castro Lins



* EBI - Estudo Bíblico Indutivo. Método de Estudo da Bíblia muito utilizado em grupos da ABU (Aliança Bíblica Universitária) nas universidades.

domingo, 9 de agosto de 2009

As Estrelas Nos Lembram






Em lugares ausentes da história, antes dos limites do tempo sobre a vida, quando a face dos seres era uma imagem do desconhecido... Em terras do nada, lugar esse onde tudo é apenas imaginação... Como árvores de natal sem enfeites, não havia estrelas penduradas no céu... Antes do sol nascer pela primeira vez - talvez se a imaginação assim desejasse, haveria uma lua invisível sem astro algum para iluminá-la... Existiam seres, talvez humanos, talvez reais, seres que moravam na escuridão, cujos olhos eram bolinha inúteis imergidas nas trevas. Já diziam que os olhos são a janela da alma e a cegueira é apenas a alma que não reconhece a luz. Eles não conheciam a luz, pois não havia dia e o que chamamos de noite eles chamavam de vida.



Não! Mesmo assim, os olhos não eram em tudo inúteis, afinal, por eles a alma chora e manifesta quase em palavras, mas apenas em lágrimas, sua solidão. Caminhar e viver são dois nomes dados a mesma pessoa. Caminhavam sem sentido, pois seus olhos eram virgens que nunca conheceram a luz, todavia, posso imaginar que o simples ato de caminhar denuncia uma procura, ou posso usar forçosamente a palavra “esperança”? Sim, creio que devo usá-la. Porém, uma tímida esperança apenas, e nada mais.



Até que um dia... Não! Esse termo é mentiroso, pois até então não existia dia. Vou tentar novamente: até que... a imensidão escura se desfez diante de um imensurável ser que rasga o horizonte, pondo-se no céu como um rei e sentando-se em seu trono suspenso nos ares. A luz passa a habitar no mundo e caminhar entre os homens num encontro inevitável com os olhos... agora os cegos vêem! E os sonhadores aprenderam a olhar para o horizonte! O assombro de um recém-nascido fugido do escuro do ventre da mãe é ínfimo diante da admiração daqueles que deslumbravam petrificados o nascer do dia, esse visitante desconhecido. Peço encarecidamente um simples exercício de empatia: imagine-se como ser da noite que nunca contemplou a aurora da manhã, nem sequer uma chama a clarear, e de repente depara-se com o primeiro nascer do sol.

Outrora obscurecidos os homens não enxergavam sua face no espelho, apenas tateavam os rostos uns dos outros, era impossível reconhecer a si ou a alguém, mesmo próximo. Contudo, quero agora falar apenas do primeiro dia em que houve dia. Tamanha a alegria, o céu e o mar foram pintados de azul e as pessoas conheceram o infinito, muito além do limite da imaginação onde seus sonhos tateavam. Nesse dia o perfume das flores fez mais sentido. Nesse dia o homem conheceu as montanhas e viu-se pequenino. Nesse dia os olhos aprenderam a olhar nos olhos, e o amor nasceu forte como em pleno meio-dia. Houve vida até o entardecer. Até que... O gigante se moveu e parecia ser engolido pela terra, para alguns, porém, mergulhava no mar. A escuridão sem fim tragou a luz e cegou os olhos de todos. Com o cair da noite, o sol que nasceu parecia aos poucos padecer... morto, foi sepultado e se pôs.


Naquela noite a escuridão fez-se mais escura, e o medo postou-se mais visível. Peço novamente apenas mais um exercício de empatia: imagine-se perante a primeira noite, incerto se o dia outra vez nasceria. Talvez seja como o caso do cego que outrora contemplou o belo e suas cores, todavia hoje há apenas imagens de lembranças misturadas com saudades do que se foi. A humanidade caiu na incerteza do amanhã. Quando a noite não tem fim, não existe amanhã.

Eles choraram amargamente, mas alguns não deixaram desfalecer sua esperança. Nas trevas seus olhos não esqueciam a luz, como se o sol nunca houvesse se posto em suas almas. Outros, porém, viram na escuridão que os cercava um simples reflexo de suas almas enegrecidas. Eles amaram mais a noite do que o dia. Esperança é esperar quando o coração já possui o que se espera, mesmo ainda esperando. O que se espera é que venha plenamente o que já se tem em parte. O dia nasceu para aqueles que já tinham o seu brilhar em si e Deus fez deles estrelas, brilhando na escuridão, para lembrar os homens que a noite não é eterna, mas finda, e que o dia logo vem.


As gerações passaram e as estrelas ainda brilham, mas encantam a poucos. O sol nasce todas as manhãs como se fosse a primeira vez, mas poucos o aplaudem. Contudo, devemos convir, que o pôr-do-sol ainda é belo o bastante para roubar lágrimas. A saudade ainda acompanha todo entardecer, e quando escurece... já não sabemos mais a quem porventura se destina a saudade. Ouso perguntar: saudade do desconhecido? Sem demora, ouço a voz das estrelas a responder: “sabes apenas... saudades de Deus!” Enfim, não se angustiem a esperar – as estrelas nos lembram – breve o sol vai nascer.


Castro Lins


Num mundo em trevas, falar de estrelas nunca é bastante, sempre é essencial. Ofereço a vós, estrelas, em forma de consolo, essa tão simples - ou até mesmo infantil - historinha. Devo esse textinho a uma amiga bem distante dos meus olhos, mas bem próxima do meu coração, nunca duvidei do seu brilho... do sempre amigo... Castro Lins

.E falou-lhes pois Jesus outra vez dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Escultura



Não escondas o rosto,
Assim da vida...
Retiras...
Todo o gosto.
És obra esculpida,
És arte escultura,
Sou artista
Em loucura,
Desejando ser arte,
Tinta e versos
Para encontrar-te.
Apenas perto;
Apenas parte;
Parte da tua moldura.
E por amor
Que poeta criador
Não se faz criatura?
Mesmo Deus fez-se homem,
Escritor,
Ao mesmo tempo escritura.
Teus olhos
Dois sóis,
Puras, brancas nuvens,
Limpos lençóis.
Orquestra dos céus
Sua mansa, doce,
Límpida voz.
Os cabelos teus:
Mar negro,
És a mais perfeita
Criatura de Deus
Feita em segredo.
Sorria...
Teu mover de lábios
Encanta, embriaga,
Enlouquece os sábios.
Choro com ar divino,
Uma lágrima
Mergulha no mar
Faz dele... mais salino.
Tão doce até salgar,
Um beijo...
Enlouqueceria as ondas,
Seria cômico, estranho,
Nem imaginação sonda
Essa quimera,
Quem dera sonho.
Traços de menina,
Banha-se a bailar
Na chuva
Vinho de muita idade,
És videira,
Uva... felicidade.
Afasta-te!
Oh! infame
E vil vaidade.
Não devo tocar-te
Dizer o nome,
O amor fez-me covarde.
Já não há sons no piano,
As notas loucas repetem
Emudecidas: “te amo... te amo”.
Medo de compor,
Oh! minha linda partitura!
Apenas escultor
Que admira, tu safira,
A mais linda escultura.
Castro Lins

terça-feira, 28 de julho de 2009

Carta – Vento que sopra onde quer.





Lembro que quando criança morava num lugar cercado por pés de eucalipto. Logo atrás da minha casa havia uma floresta com macaquinhos saltando de galho em galho, um circo natural cheio de festa para uma criança cuja idade nem me lembro mais. No entanto, lembro do meu pai levando-me para mata com outros homens, para buscar algo que também já não me recordo ao certo o que era... Porém não importava as razões, a aventura iludia-me e seguir meu pai era como seguir um general. Seus amigos formavam o exército e eu era o soldado herói, o mesmo da televisão, apenas um tanto mais baixinho e com uma dezena de coisinhas grudadas em meu cabelo, pereciam uma certa espécie de carrapicho que dava muito trabalho para tirar depois. Nessas horas, minha mãe entrava em cena e arrancava cada coisinha puxando meu cabelo, – doía muito - mas garantia o final feliz da minha aventura na selva, o encontro inevitável com minha feroz imaginação.


Saudades da infância dos sonhos, quando eu ouvia o som assombroso do vento vindo de encontro aos eucaliptos. Orquestra que só os ouvidos refinados das crianças são sensíveis o bastante para degustá-la, definitivamente era lindo e ao mesmo tempo assustador para um pequenino. As folhas caiam em giros no ar e mereciam palmas. Minha mãe, ou talvez minha tia, me puxava pelo braço dizendo: “anda garoto parece bobo olhando para o vento”. Minha imaginação de menino perguntava a minha alma de bobo: “Será esse aquele a quem chamam Deus?” Lembro desse Deus! Falavam dele na reza anual na casa da minha tia, e estava certo que minha avó, cristã protestante, também havia falado nesse ser dito poderoso e grande. Naquele dia parece que fomos apresentados. Eu não tive a coragem de conversar com ele, pois todos diziam que ele era uma figura ilustre, então fiquei um tanto tímido. Também não conseguia enxergá-lo, era como aquele vento que apenas o sentia e ouvia seu choque com as árvores entres ares.

O som do vento entre eucaliptos... creio que o meu primeiro encontro em consciência com meu criador, como se a poesia olhasse para o poeta e dissesse: “oi”. Fora da minha posição de criatura, não sei qual seria a minha reação diante de algo assim. Todavia, agora posso supor os bons sentimentos que me invadiriam se um futuro filho meu, em suas primeiras palavras, pronunciasse um simples: “Papai.”

O tempo em sua obsessão de sempre nos destinar ao fim. Nunca esqueci esses eucaliptos que se foram dando lugar a tijolos e concreto. A rua ganhou asfalto e minha selva tornou-se selva de homens cheia de barracos e bares. Os macaquinhos se mudaram passando a habitar agora apenas em meus sonhos. Pessoas tristes agora moram atrás da minha antiga casa, toda aquela riqueza que eu tanto admirava tornou-se a pobreza que tanto me entristece. As aventuras hoje são desventuras de um homem que senti saudades da infância. Do muro da minha casa já não vejo verde. Agora vejo de olhos fechados, pessoas tentando esquecer de sua vida sem sentido, sem vento a soprar. Elas embriagam-se e se alucinam. O vento derruba seus barracos e a chuva desaba barrancos e inunda suas casas.

Para que tolos como eu possam lembrar dos antigos macaquinhos, esse lugar hoje se chama “Morro dos Macacos”. Agora homem, vejo que aos poucos o vento parou de soprar, os eucaliptos se foram. Descobri que meu pai era meu padrasto e como eu queria sentir novamente as incômodas coisinhas grudadas no meu cabelo, vendo minha mãe arrancá-las depois de mais uma aventura. Cresci e vi tudo diferente, já não sou leve o bastante para deixar ser levado pelo vento. Fui para universidade para aprender não ser mais criança e perder minha alma de bobo. Hoje corro atrasado entre os sinais de trânsito, e meus ouvidos estão ensurdecidos com a música que a vida me obriga a dançar.

Nesses últimos dias sentir-me sozinho, como de costume, gosto de caminhar em dias de solidão, foram tantos passos para fugir dela que de repente me vi cansado e sentei. E como alguém que estava surdo desde infância, em milagre meus ouvidos se abriram. Assustado como uma criança, eu ouvi novamente o sopro avassalador do vento entre os eucaliptos, logo atrás de mim. Nossa! Era Ele novamente! Deus! Agora, desde aquele dia quando criança, já um velho conhecido. Pai e amigo de outrora que, porém, naqueles dias eu indelicadamente havia esquecido. Ele era o mesmo dos dias passados, tudo se foi: as árvores, os macaquinhos, as rezas, mas ele não.

Percebi que não estava sozinho e nunca estive. Talvez, por horas de anos, eu tenha estado surdo para o som da sua voz que sopra onde quer, e cego para enxergar as folhas caindo das árvores, todavia não estava só. Nem no instante mais insignificante de minha breve vida. Depois da nossa primeira apresentação, agora com um pouquinho mais de intimidade eu conversei com ele abertamente. Foi um bom papo, falei das rezas da minha tia e a gente riu juntos, também choramos juntos quando eu falei das dores das pessoas que moram, hoje, atrás da minha antiga casa.

Aquele era um dia de páscoa, foi inevitável lembrar da cruz e nesse instante, como alguém que desperta de um sono milenar, o vento soprou em meus ouvidos como um sussurro suave: “ Ainda achas que não me importo com a dor dos meus filhos? Ainda pensas estar sozinho?”. Não tive respostas, mas acho que chorei escondendo o rosto das pessoas que passavam próximo a mim. Acho que elas me tinham como louco. Não bastante, lembrei de tantas boas pessoas, que as chamo de anjos, enviadas de Deus para sarar tantas vezes minha solidão. Mas os anjos, diferente de Deus, sempre na hora certa, se vão. Não sei, talvez eles voltem para o céu. Mas deixam conosco algo lá de cima que chamamos de saudades. Não foi por acaso, nem de forma forçosa. Eu simplesmente caminhava pelo Campus me sentido triste, quando ouvir o forte som do vento a cruzar os eucaliptos do ginásio de esportes. Lembrei-me da minha infância, chorei e depois que de todos os sentimentos que contei, sorri e agradeci a Deus pelo seu sopro que desfaz a neblina da solidão e forte o bastante que dá vôo para os anjos com suas asas. Saudades dos bons amigos e de uma amiga em especial a qual dedico essa carta, obrigado pela sua amizade espero não te ver bater asas. Do sempre amigo... Castro Lins

A Constante





Como já dizia um bom amigo:
“a constante universal da vida é a tristeza”.
A vida em sua cômica maldade enche seres a ser e sentir ilusões, apenas para em risos roubá-las de nós bem lentamente ao longo dos anos. É como dar presentes a uma criança e receber dela um abraço agraciado, logo em seguida, em plena frieza, tomá-los de volta deixando o pequenino apenas confuso. Restando-lhe em sua fraqueza diante do adulto, apenas o choro. Não abrace a vida nem lhe oferte sorrisos, no fim só resta o silêncio das lágrimas. O choro é uma constante. É isso que vejo quando ando nas ruas.
Temo - ouso falar que poucas vezes isso me ocorreu. Temo não encontrar um final feliz para o que escrevo.
Não encontro, pois a tristeza é uma constante, que se alimenta da inconstância da felicidade.
Infeliz felicidade, não dura.
Melhor se não houvesse de haver.
Melhor seria apagar com um borrão sua existência. Enfim, se sou infeliz é porque a felicidade se foi, antes se não houvesse de vir, assim não haveria o choro pela ida.
Ora, quero dizer apenas algo bem popular “tudo passa”.
O que revolta é alguém dar um brinquedo a uma criança e depois tomá-lo de volta. Sensato seria antes não dar. Perdoem meu comportamento de criança. Apenas temo que a vida seja cúmplice do fim, afinal a mesma se entregará a ele um dia.
Chego à conclusão que só há dor por haver alegria, ou amor. Preço justo? Sinceramente já não sei.
Tenho repensado esse sentido. Os mártires que me perdoem.
Essa montanha de altos e baixos vem me causando enjôo, a cada dia me convenço do desejo pelo fim dessa viagem...
Peço a Deus que esse final que escrevo, não seja uma constante no que eu venha a escrever. Dessa vez me faltou um final feliz.
Castro Lins

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Carta – Surpresas do Caminho



Sempre brinquei com meus amigos dizendo que, se porventura, seguir a Cristo for apenas não beber, não fumar e não namorar, devo ser crente desde que nasci! Concordo com C.S.Lewis quando ele troca o termo conversão religiosa para: “surpreendido pela alegria”. Quando criança minha avó sempre falava a respeito de Cristo, sem perceber eu já estava caminhando com ele. Talvez não da forma mais tradicional, pois meus pais não freqüentam instituições religiosas apesar de declararem-se cristãos. Acho que sempre fui um garoto meio covarde, através do medo ou do respeito, eu sempre rezava o “Pai nosso” antes de dormir e me sentia culpado quando dormia durante a oração ou quando esquecia os pedidos.

Mesmo sem fazer parte de qualquer igreja, não sei exatamente com quantos anos -talvez doze, ou onze - comecei a praticar uma leitura bíblica cotidiana. O que me levou a isso? Não sei ao certo, eu era um garoto meio tristonho, que se isolava frente à televisão, vezes lendo. Todavia, ler a bíblia sozinho me proporcionou adentrar numa grande aventura, um romance com heróis, traidores, guerras, poderes sobrenaturais, fogo que vinha dos céus, o bem e o mal em confronto, gigantes, leões e um cabeludo que, desarmado, incitava uma revolução na alma dos homens.

Muitos nascem na igreja, ou freqüentaram bastante a igreja antes do primeiro contato com a bíblia, para estes, as histórias bíblicas não são inéditas como foram para mim. Em minhas leituras, mesmo já ouvindo falar, eu simplesmente não sabia que Davi venceria Golias com uma pedrada. Davi era meu herói, até o dia em que quase chorei no meu sofá... Foi quando li sobre o assassinato e adultério que o mesmo havia cometido. Eu criava em minha mente o cenário de cada guerra do povo de Israel. Admito que pulava os trechos bíblicos mais chatos, e as reflexões confusas de Paulo, essas eu lia apenas para satisfazer minha consciência. Enfim, foi uma surpresa saber que a história de Sansão era bíblica, imaginava ser apenas um episódio do Chapolim Colorado, no entanto creio que grande parte do que eu lia não conseguia compreender muito bem.

A leitura bíblica contribuiu, mas acho que fiz da bíblia apenas mais um romance secular, ou um sacrifício cotidiano. Posso estar errado, mas só percebi que não estava sozinho em minha caminhada de vida quando passei por sérios problemas de depressão. Desentendimentos com meu padrasto (considero-o como pai), fizeram-me sair de casa e ingressar num colégio de regime internato. Não gostava muito do curso, na verdade só queria mesmo era fugir de casa. De certa forma, apesar dos bons momentos que vivi nesse colégio, minha depressão crescia a cada desapontamento com vida. Escrevia poesias melancólicas e chorei muito quando reprovado em algumas provas de vestibular ( algumas universidades aplicam processos de avaliação diferentes no nordeste), isso contribuiu mais ainda para minha doença da alma. Porém, mesmo ainda meio arisco e longe de igrejas, a dor inevitavelmente apontou o caminho para o consolador, alguém que sorrateiramente invadia minhas poesias e oferecia a elas um final feliz.

Descobri que não estava só. Isso me deu forças para não cometer uma tragédia contra minha vida. Acho que em nenhum instante de minha depressão chorei sozinho, entre abraços invisíveis, conheci esse Amigo e Pai que amo tanto. Não levantei minha mão em nenhum apelo da igreja, não fui até Deus, Ele veio até mim, invadiu, conquistou, ocupou um vácuo da alma, com seu carinho, consolo e amor.

Nos últimos anos de internato eu comecei a visitar algumas reuniões evangélicas que ocorriam no colégio. Contudo inclinei-me mais para um outro viés de identidade cristã. Todos os sábados, eu e meus amigos fugíamos da escola para assistir uma missa de um padre que aprendi a admirar pela sua sabedoria e eloqüência, ele me influenciou muito com suas reflexões (diferentes de qualquer outros sermões já ouvidos por mim). Brinco, ao crer que ele não seguia as orientações do Papa. Falava de um Jesus simples, com palavras que penetravam na alma pela força do Verbo. Desde então, tornei-me viciado em refletir nos ensinamentos de Cristo. Na cama de baixo da minha beliche, refletia sobre a vida e suas mazelas e por vezes isso aumentava minha tristeza... lembro-me dos meses de guerra no Iraque, nunca procurei tanto por respostas como naqueles dias. Por vez encontrava alento, vezes me desesperançava novamente num ciculo vicioso .

Eu estava determinado a conhecer mais sobre esse Jesus que vinha causando tantas mudanças e confusões e surpresas em minha alma. Não sei bem explicar a razão, talvez sobre a influencia desse padre ou em virtude da minha timidez e insucesso com as mulheres, resolvi procurar um seminário católico. Resolvi tornar-me padre, no entanto, depois da primeira visita ao seminário desisti dessa idéia. Deparei- me com algumas instruções discordantes com a bíblia e, um tanto, distantes dos sábios ensinamentos do bom padre.

Quando terminei meu curso, sai do colégio interno e procurei uma igreja batista em minha pequena cidade, depois de um mês de igreja um irmão me perguntou: “Rafael, hoje, dia...você crê que Jesus é seu único salvador?” Pensei: “como assim?Acho que sempre foi!”. Na verdade não entendi bem a pergunta dele, mas não o contrariei. Hoje entendo melhor essa pergunta, e bem sei que a resposta sempre foi uma certeza bem viva em mim, antes mesmo que houvesse a pergunta.

Após três meses nessa igreja ingressei na UFRuralRJ e de repente conheci a ABU (Aliança Bíblica Universitária). Nesses dias compreendi de sobremodo o que Jesus chama de próximo, família, Corpo. Irmãos samaritanos que passando pela universidade encontraram um jovem ferido, longe dos pais e cheios de inquietações no coração. Cuidaram carinhosamente desse jovem e por fim, apenas sussurraram em seus ouvidos:”Vai e faz o mesmo”. Esse foi o meu “ide”. Lembro-me da minha timidez no grupo e do meu primeiro estudo bíblico. O tema era dia do PAI, fiz analogias entre Deus Pai e o dia dos pais. Foi nesse dia também que liguei para o meu padrasto e pedi perdão por todos os nossos desentendimentos. Foi na universidade e com o auxílio da ABU que descobri um amor inexplicável de Deus para comigo, isso me ajudou a superar crises da alma que ainda me afligiam. “O Amor de Deus”, esse era o tema de grande parte dos meus estudos na ABU... até hoje é. Descobri o grande segredo da bíblia e sua chave hermenêutica, Jesus. Na ABU encontrei uma palavra que por muito esteve longe de minhas poesias: amizade.


Minha fé foi cultivada aqui dentro da universidade, deparei-me com grandes descobertas depois do meu primeiro CF (curso de férias da ABU) em Campos-RJ. Descobertas cristãs que contribuíram para o meu amadurecimento, após, já participei de mais alguns CFs, mas o primeiro foi meu ponto de partida, inclusive, minha primeira ceia. Nesses dias percebi que não caminhava apenas eu e Jesus, havia um Corpo espalhado pela face da terra, havia uma missão na qual resolvi aventurar-me.


Quando descobri esse mundo novo, desbravei, mas desencontrei-me diante de inconformidades. Após algumas leituras a vivências, desapontei-me com a igreja. Por algum tempo fui revoltado com a igreja e seus inúmeros equívocos. Hoje um pouco mais maduro, não deixo de criticar, mas também já não deixo de me envolver. Atualmente dou aula em algumas classes do ministério de ensino em minha igreja local. Quero servir de alguma forma, há desapontamentos que continuam , porém eles estimulam-me a tentar não repetir erros, ou caminhar para melhorar o que ainda está errado. Entendi que a igreja é imperfeita, apenos por ser um reflexo meu no espelho.

Ainda não sou um Super homem, há dias que ainda sinto depressão, as dúvidas ainda existem, todavia, sem abrir mão da certeza, posso afirmar: Fui surpreendido pela alegria. Hoje espero aprender a servir, encontrar novamente comigo mesmo, olhar no espelho, analisar o passado, viver o presente e correr esperançosamente para o futuro. Quero conhecer mais a Cristo até que ele faça parte inteiramente de mim, quero entender e me entregar a esse inexplicável amor e ofertá-lo sem reservas. Essa minha estranha e resumida história, fala apenas de um garoto surpreso diante de tanto amor. Uma espera de olhos fitos no horizonte. Uma alegria que ainda respira depois de um profundo mergulho na tristeza. Essa é uma simplória carta destinada a amigos. Desejo a Graça e Paz de Cristo e abraços meus ... do sempre amigo... Castro Lins

terça-feira, 7 de julho de 2009

O Livro












A bíblia é um romance, onde o próprio Deus narra sua história de amor. Romance sem final. Certamente por essa razão, o último capítulo do livro – apocalipse - tem como tema principal não o fim, mas a eternidade. Primeira história de amor, pioneira, onde tudo que se julga amor de outrora, de agora, ou do por vir... é apenas uma sombra, uma réplica imperfeita, um mero prefácio desse livro onde o amor é levado à existência por quem amou até o fim.
Uma história de amor de um Deus e seu povo. A noiva apaixonada, que espera em suspiros pela volta do seu Noivo. História de um povo, cujos fracassos são bem expostos em suas lamentações, e seus cânticos são bem ouvidos em seus salmos. Heróis que não sabem voar, mas possuem o céu como herança. Na terra sujam os pés, e carregam consigo apenas uma boa e nova mensagem para os ouvidos da alma... “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”. Alguns profetas, ou simples poetas. Outros são carteiros de todos os endereços, todos os destinatários. Uma carta de amor que Deus escreveu a punho, perfumada e selada com uma cruz.
Depois de uma virgula no meio do parágrafo, o autor decide entrar na história do seu livro. O técnico entra no jogo. Um escritor se faz escritura e personagem principal. Esse capítulo muda o curso da história, o mocinho morre... Como nos livros infantis, havia a gravura de uma cruz. Na próxima página uma batalha é narrada e por fim a morte – vilã do livro - é vencida.
Nos capítulos adiante, o filho pródigo volta ao Pai. A noiva finalmente é entregue aos braços do Noivo. O Rei estabelece perpetuamente seu reino, ou apenas... Uma carta de amor, ou apenas uma cruz que mais parece um soneto carinhoso. Na verdade, apenas uma história de amor. História sem final, e viveram felizes para sempre... Castro Lins


obs: Bem sei que a Bíblia é formada por vários livros juntos, todavia, bem sei e sei com veemência, que o Autor é um só.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Palavra Coração




O coração, mesmo primordial em nosso corpo, não passa de um esquisito pedaço de carne sujeito a sua futura e certa decomposição. De repente a lógica se desfez, essa carne se fez verbo “Logos”, o coração se torna palavra e a matéria que antes condenada a se decompor num fim inevitável, agora é palavra que percorre os séculos sem atrasar nenhum dos seus batimentos, como música de tambores ritmados. Suas batidas bombeiam o sangue da alma, no qual os médicos poetas chamam de sentimentos. Esses, conforme sua natureza pura ou impura, percorrem vias arteriais ou venosas, respectivamente.
A ciência da alma, não teria outro nome diferente, chama-se apenas “Metáfora”.E quem é doutor nessa ciência bem sabe dos seus paradoxos, onde o mesmo coração que ama perdidamente pode também ser o objeto de amor, e talvez, o último lugar que se imagine que ele esteja, é no lado esquerdo do peito. Ora... “onde está seu tesouro, ai está seu coração”.
Então parece não haver regras anatômicas para explicar o coração. Não se sabe ao certo seu lugar, ou sua função, pois as metáforas não respeitam o espaço, elas por certo existem para ir além dele, onde os olhos de carne já não podem mais enxergar. Todavia, muito se sabe das suas enfermidades que o deixam em pedaços, a dor de um coração partido parece inimaginável e quando algo foge da nossa imaginação concreta recorremos novamente as metáforas. Então pode-se dizer que essa dor também é dor palavra - “Logos” – que por vezes se faz carne e dói no corpo e na alma. O que fazer? Mal sem cura!
Alguns escolhem a prevenção e para evitar esse mal se protegem construindo um coração de pedra. Infelizmente existe um efeito colateral que essa medida trás consigo. Afinal, coração de pedra não bate e assim não bombeia sentimentos para alma, assim, a parada cardíaca pode ser inevitável e a alma chega a falecer e nesse estado de óbito, não demora muito para o corpo sujeitar-se ao mesmo trágico destino.
O medo da dor sugere a nós, conselhos que recomendam a não entrega do seu coração para qualquer pessoa que o deseje. Mas devemos convir que algumas destas pessoas têm o dom de conquistá-lo fazendo uso do amor como seu cúmplice. Conselhos mais sábios ainda, ensinam o dever de entregá-lo apenas a Deus aquele cujo carinho e cuidado transcende até mesmo as metáforas, simplesmente inefável. Não deixo de forma alguma de concordar e realmente não me atrevo a discutir. Porém é bem verdade que Deus é amor e o amor é palavra – “Logos” – que de repente se fez carne e enquanto habitou entre nós, longe do mundo eterno das metáforas, entregou seu coração em palavra e também em carne para sangrar sangue e sentimentos pela humanidade. O amor é “Logos”, todavia só é manifesto quando se faz carne. Estou a rir por brincar com as palavras, essas idas e vindas entre o real e o sonho são prazerosas.
Quem ama bem sabe dos riscos e dores cardíacas quando se entrega o coração a alguém. As conseqüências vão desde simples suspiros apaixonados até gemidos de cruz. O que inquieta-me é saber que mesmo diante de tantos perigos, singelamente, o amor é uma metáfora de outra metáfora que consiste em “entregar o coração a alguém” e nesse exato instante o amor se faz carne e o coração se faz palavra, uma inversão divina de papeis.
Já exausto dessa conversa, devo relatar uma ultima lembrança que me veio a memória. Certa vez, vi num filme uma história de alguém que trancou seu coração num baú e escondeu a chave. Pensando apenas em mim, creio que as dores da vida me respaldam dando-me o direito de fazer o mesmo. No entanto, se não me engano, esse personagem tornou-se um monstro sem coração. Enfim, creio que prefiro assumir os riscos, caminhando sempre em direção a cruz que me espera como preço justo para aqueles que ousaram entregar seu coração para alguém, aqueles que simplesmente decidiram amar. Eis ai meu coração aceite-o como prova que meu amor que se fez carne para estar mais próximo de você. Do para sempre amigo Castro Lins.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Dádivas e sonhos



Talvez as dádivas não sejam necessárias para existência do agradecimento.O real agradecimento precede as dádivas. Agradecer por mais contrastante que pareça, é uma dádiva. A real alegria de agradecimento não está nas pessoas que por seus méritos galgam dádivas, se assim fosse seria meu dever usar outra palavra de mérito inferior.
O agradecer e seu júbilo mais sublime mora em pessoas que sabem que sozinhas nunca alcançariam seus sonhos, pois na verdade seus sonhos nunca foram seus.
Ora... os sonhos não são matéria, habitam fora da realidade, claros, porém invisíveis. Por isso não podemos tê-los em nossas mãos, por isso são apenas sonhos! O consolo é saber que existe um Senhor dos sonhos, também invisível, todavia real.
Dessa forma, o único capaz de trazê-los a realidade, materializá-los, ofertá-los a nós para que possamos com nossas mãos tocá-los e vê-los, agora não somente quando nossos olhos estiverem fechados.
Nesse dia o Senhor dos sonhos veio a nós com uma dádiva, nem os mais belos versos são perfeitos o bastante para agradecer tal presente. É como agradecer pelo sol que nasce todas as manhãs, e como Deus de repente esconde essa estrela para acender outras centenas de milhares durante a noite. É como agradecer pelo ar que respiramos já quase em inconsciência de respirar e ainda assim ele nos dá vida, de tal e suprema forma é Deus que mesmo em nossa inconsciência e ingratidão nos alimenta saborosamente com sua vida.
O que nos resta é apenas imitar um singelo sorriso de uma criança diante de um presente. Embaraçadamente, só o que está em nosso alcance é nossa alegria sincera, o orgulho de nossos pais, a nostalgia dos amigos, nossos corações batendo mais forte, olhos a brilhar e outras centenas de etc mais, tudo! Tudo isso colocamos diante do Senhor dos sonhos... Deus. Sabendo, no entanto, que tudo isso por mais lindo e puro em sua existência, tudo isso, é ínfimo diante Dele. Afinal até a dádiva do agradecimento é motivo para agradecer.

Castro Lins

Covarde






Olhar para dentro de si, é simplesmente não saber o que vai se encontrar. É si encontrar sabendo que nem tudo que se encontra é desejável de se encontrar...
Ele sempre esteve lá, nunca pude enxergá-lo, pois mora nas regiões abissais do nosso ser. Ele ama a escuridão, pois é nela em que nossos olhos falham e podemos nos ver claramente frágeis.
O medo é um inimigo impiedoso que destruía meu ser, sem eu nem mesmo saber que estava em guerra. Minhas vestes de orgulho são rasgadas e percebo depois de séculos de covardia, que sou um covarde. Não falo isso à espera de tua compaixão, ou criando uma falsa humildade. Falo, ou escrevo, de uma descoberta nesse lugar desconhecido por mim, meu coração. Esperei encontrar os tesouros enterrados aos heróis, todavia o medo parece me enterrar para os mistérios insondáveis que o mar me oferece. Não desmarcarei minha covardia numa fuga estreita de uma briga de colégio, muito menos quando subi uma escada e olhei para baixo. Só reconheci esse impostor mascarado quando não temia apenas as coisas temíveis da morte, mas quando temi as dádivas mais sublimes da vida. Temer o que não devia causar temor é esquivar-se do amor e se a graça do amor não for tal qual, ou superior, ao teu medo de sofrer, és um covarde!
Quando me deparei com o amor tão imensurável, com o horizonte tão infinito e com estrelas tão brilhantes, a minha primeira atitude foi fugir e me esconder, pois a tudo isso desconheço, e a nada tenho controle, e a tudo tenho medo, mas esse medo que também desconheço, não é o mesmo medo que outrora temia apenas o que fere, o que dói. Esse medo mais feroz e avassalador teme o carinho, teme o amor, não teme apenas a grandeza que machuca, mas sim todas as imensidades sejam elas de vida, ou de morte. Dessa forma repudiei as mãos desejosas a ofertar-me singelas carícias.
Quando eu abri o armário do meu quarto não pude encontrar meu bicho Papão, pois estava escuro demais para míopes olhos. A luz acendeu, agora era ele que não podia me enxergar. Voltei a dormir e quando acordei lembrei que o covarde não é aquele que teme a dor, mas aquele que tem medo do amor. É como a luz e a escuridão, ambas controlam nossos olhos o que devemos, ou não, enxergar. O medo de amar é um egoísmo repleto de cuidado de si, uma fuga das reações dolorosas que acompanham o amor, é diferente de não se deixar ser amado, isso não é egoísmo, é covardia. Ouvi dizer que o amor lança fora o medo. Lancei-me em coragem brutal e enfrentei o gigante do perdão, ele parecia não ter fim! Hoje, não quero mais temer o perdão apesar do seu tamanho, e a cada passo deparo-me com mais imensidades inexpressáveis como o amor e a graça.
Agora que não temo as alturas, meu alvo vai além dos Andes. Ainda pequeno como um escravo alforriado estou a encontrar outro senhor, e como já não há o medo das grandezas, não preciso ter medo de Deus. Tenho temor, afinal sua imensidão é assombrosa, mas vejo numa cruz de insignificâncias, não a majestade reduzida, mas sim o imenso de braços abertos ao pequeno, aos pequeninos, e o insignificante dando um significado ao amor. É como o encontro do finito com o infinito, das estrelas com os sonhadores, do inexpressivo ao criar um gigante inexpressável.
Ser covarde é ter medo desse amor. Esse medo e esse amor não podem coexistir no mesmo coração, agora cabe a mim escolher: ou me entrego, ou me escondo. Castro Lins

Ensaio Sobre o Tempo






O tempo é o espaço entre dois pontos numa linha infinita que denominamos eternidade. Um ponto é o início, o outro é o fim. Caminhar incluso entre esses dois pontos é estar sujeito às ordens desse espaço de tempo. Da mesma forma que o ponto final traz fim ao capítulo de um livro, mas não necessariamente é o final do livro e alguns podem até supor que esse livro não tenha um fim. Entre esses dois pontos que delimitamos como espaço do tempo, podemos criar divisões até chegarmos aos menores instantes, nos quais furtivamente se vão à medida que nos aproximamos do ponto final desse capítulo.
A grande frustração humana é saber que o tempo é apenas um espaço delimitado que depois de percorrido vai acabar, e o que causa medo é não saber o que nos espera depois da linha de chegada. Será um troféu, ou vaias? Não saber qual é o começo que o fim traz consigo, essa é a fobia que faz-nos criar uma imagem sombria que chamamos de morte. A vida por outro lado, é bem manifestada e presente, assim, menos amedrontadora.
Sabe-se bem que a morte é uma ausência de vida e que a vida precede a morte, sendo assim, é provável que se porventura a morte deixasse de existir, ou como imagem do nosso medo do desconhecido ela fosse vencida, haveria vida eterna, considerando uma linha infinita. A teologia fala de um homem que venceu a morte dando fim ao fim, para que o tempo desse lugar à eternidade e não houvesse mais pontos que interrompam a vida, fazendo da mesma eterna.
Tudo leva a crer que da mesma forma que o tempo possui início e fim, tudo que se inclui nele também está sujeito à mesma ordem.Provavelmente tudo que se inclui na eternidade, onde o fim é inexistente, deve também se sujeitar a ordem do eterno. Sendo assim, podemos dizer que no tempo o mal pode ter fim e o mesmo ocorre com o bem. Já ao adentrar na eternidade, o mal (choro, dor, tudo a que possamos considerar ruim) dura para sempre, igualmente acontece com o bem (amor, paz, alegria e tudo que possamos considerar bom) dura para sempre. No tempo nos é dado o direito de escolher o início e o fim de algo, feita a escolha, ao entrarmos na eternidade não existe mais essa segunda opção.
Apesar de não enxergarmos, nosso coração parece enxergar além dos pontos e esperar desejosamente pela eternidade. Quando o tempo e o espaço roubam nossos bons instantes de tempo, parecemos nos revoltar com um sentimento cujo nome é saudade. Quando a alegria chega ao fim, logo buscamos uma maneira de estendê-la um pouco mais e se fosse possível a faríamos plena então daríamos a ela o nome de felicidade, que parece ser sempre passageira, porém a maioria dos nossos esforços nessa vida giram em torno da continuidade desse bem estar. Como bem dizem: “eu só quero é ser feliz”. Diante da dor, bom mesmo é que o fim chegue e isso aponta um entendimento prévio para alguns suicídios, mas a esperança de quem deseja o fim do sofrimento não é apenas que a dor se vá e ele permaneça inerte no universo, o que ele realmente espera é que a ausência da tristeza de lugar a alegria e que essa alegria nunca de lugar a tristeza, ou melhor, que ela seja eterna. Envelhecer é difícil, o fim em seu desconhecido causa medo. Parece que realmente fomos feitos para eternidade e ela para nós.
As histórias vivas de pessoas se cruzam num único livro suposto sem fim, algumas destas, de repente deparam-se com um ponto final. Na maioria das vezes isso ocorre com a morte de seu personagem principal. Devo convir que a morte e o fim parecem cúmplices, assim como a vida tem sua cumplicidade com a eternidade, talvez se o nosso personagem principal vencer a morte e ressuscitar, talvez o ponto final do tempo - a morte - apenas queira dizer que um novo parágrafo vem pela frente no livro da vida, ou na linha
da eternidade.
Castro Lins

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Viajei


Em aula
Olhei para cima
E sorri.
O professor disse irritado:
Estás rindo de mim?
Eu pensei:
Apenas estou apaixonado
O que tem de ruim?
Professor: repete
O que eu disse da matéria
Me explica!
Pensei: só entendo de amor,
Não de química!
Professor: não vai falar nada!
Pensei: falta coragem,
Mas pedirei pra ser minha
Minha namorada.
Professor: de que tu tens medo?
Pensei: de dizer que a amo,
Revelar meu segredo.
Professor: vou te abrir
Um processo menino!
Pensei: quero roubar
Um coração mas,
Não sou um assassino.
Professor: vou te reprovar!
Pensei: primeiro
Eu conquisto ela,
Depois penso em formar.
Professor: se não falar nada
Te boto pra fora!
Pensei: ela também
Não fala nada,
Sempre me ignora.
Falei: desculpe foi
Uma piada,
Que lembrei agora.
O professor desistiu
De me reprovar,
Mas eu não deixei
Nenhum minuto de sonhar,
Em plena aula,
Estava eu a viajar.

Alguns dias depois....

Na aula fiquei sonhando,
Hoje estou quase reprovado.
A menina....
Que eu estava amando,
Já tinha namorado.
Acabei casando
Com a química,
Estamos apaixonados.

Castro Lins

sábado, 11 de abril de 2009











Existe vida lá?





Essa universidade é um universo, cada instituto está a anos luz de distância um do outro, existem alunos que vivem no mundo da lua e alguns professores extraterrestres não conseguem contato com a raça humana, alguns falam outra língua, outros são verdes e fizeram doutorado em Marte. Porém a grande pergunta do universo é: existe vida nesse planeta Rural? Estudos recentes indicam que sim, apesar dos buracos negros do dia a dia, de mãos dadas, os seres desse planeta aprenderam a vencer a gravidade e não cair. Semelhante às estrelas, eles são a luz nas noites mais escuras. Lá o sol nasce para todos e quando a chuva cai do céu uma semente precisa morrer para que surja uma nova vida. As lágrimas são salgadas, mas indicam vida. Sorrisos inconstantes nos rostos, mas alegrias infinitas no coração, indicam vida. Eles respiram, e todo ser que respira canta, louva, isso também parece vida. Alguém entre eles disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Essa é a maior prova que existe vida entre esses seres.
Castro Lins


Passando pela Universidade


Queria mesmo fugir de casa, alforria, liberdade.
Queria mesmo começar uma revolução, mudar o mundo!
Queria mesmo ingressar nos átrios onde habitam o saber e a suprema verdade.
Queria mesmo buscar aventuras, o grande amor, para escrever e narrar meus próprios romances.
Queria mesmo enriquecer, orgulhar meus pais.
Dizem que tudo passa, mas na verdade, a universidade não passou, creio que fui eu quem passou por ela. Caminhando levei comigo dúvidas, falo sobre uma, a maior entre todas elas: no fim, o que permanece?
Sei que, o anseio pela liberdade deu lugar à saudade de casa. Mudei as estratégias, para alcançar êxito, percebi que a revolução deveria começar em minha alma. Entendi que a sabedoria não mora em construções ou títulos e entre tantos relativos, não encontrei a verdade listada em sumários, com o tempo aprendi que a verdade não envelhece como as folhas amareladas dos livros da biblioteca.
As aventuras me entediaram e o grande amor rendeu-se diante de algo ainda maior, é semelhante às estrelas, de tão longe parece pequeno e também se perde diante da imensidão do céu noturno.
Talvez o orgulho dos meus pais custasse minha insatisfação profissional, no entanto, enriqueci... Desenterrei pérolas preciosas, amigos que nunca me deixarão retornar a pobreza da vida. Por fim, no fim, continuo no Caminho, no bolso esquerdo carrego conhecimento e no quadro negro do meu coração escrevi com giz de eternidade: Permanecem a fé, a esperança e o amor. (I Coríntios 13:13).
Castro Lins

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Céus olhos




O céu .... dela
É um céu estranho,
É redondo,
É imenso e brilhante,
Mas às vezes chove,
Não é chuva, é choro...
Entre seus cílios
Não é ouro,
É brilho.
Não são flores,
São pétalas de estrelas
Violetas,
De duas cores,
Horas verde, vezes castanho,
Não é céu, é mel.
Não é real,
É puro sonho...
São seus olhos.
São Céus olhos.


Castro Lins...

Histórias que Contarei aos Meus Filhos



A qualquer momento do dia, meu pai sempre estava pronto para me contar uma de suas aventuras de mocidade. Essas histórias me cativavam de maneira surpreendente, isso até eu completar meus 11 anos.Confesso que eu já não suportava ouvir as histórias repetitivas dos heróis do sertão. Aos 13 anos a televisão roubou o lugar de meu pai e me fez encarar uma cruel verdade: o Superman não é nordestino, e nem se parece com meu pai!
Descobri que as histórias do meu pai se resumiam a brigas de bar (ele sempre batia em todo mundo, e não sofria um arranhão, literalmente, um super homem), ou inúmeras namoradas (ser macho é uma prioridade), e não esquecendo (isso realmente ele nunca me deixava esquecer), de como ele trabalhou para conquistar os poucos bens que nossa família possui.
Um dia me perguntaram: “em tua velhice que histórias você contará aos teus filhos e netos?”
Não vou negar que essa pergunta muito me intrigou, afinal, nunca briguei com ninguém, a única mulher de quem recebo elogios e caricias é minha mãe, e tudo que conquistei com meu trabalho até hoje são apostilas, livros e meus DVDs preferidos.Essa dura realidade me deixou sinceramente preocupado, acho que a aventura mais perigosa que já vivi foi no dia em que entrei de penetra numa festa de aniversário, isso foi realmente emocionante!
Até que um dia... Conheci uma tal de ABU (aliança bíblica universitária), isso sim foi uma aventura!Ao verificar o território não encontrei nenhuma gravata, isso já me deixou amedrontado.Um cara vestido de esportista com um violão nos braços. Pensei: “entrei no lugar errado”. Naquele momento mal podia imaginar que aqueles desgravatados e esportistas se tornariam minha nova família na universidade, mas o processo de adoção não foi tão rápido assim. Eu era muito desconfiado, tinha medo até de comer o lanchinho no final da reunião e se eu não abria a boca para comer, muito menos para falar, porém aquele que pouco fala muito ouvi, muito observa. Sim! Meus ouvidos receberam palavras que por muito tempo estiveram fora do meu dicionário Aurélio: fé, esperança e amor. E uma outra palavra que por muito tempo havia fugido de minhas poesias: amizade.
Entrar na universidade é um sonho, mas quem entra não pode dormir. Realmente não foi, e ainda não é fácil cumprir com meus deveres de universitário.Foi difícil entender meu papel nesse lugar, afinal, por que roubaram meus desenhos animados e me deram um livro de química analítica? Por muitas vezes entrei em depressão. Nas quartas-feiras eu visitava a ABU e de repente alguém começava o estudo perguntando: “você hoje está feliz?” Não era atoa que eu ficava mudo!
Chorei em vésperas de provas, solidão, problemas com os pais, alergias. Inventei novos complexos nunca antes estudados pela psicologia, eu acordava com complexo de Superman e dormia com complexo de inferioridade, apesar de muitas tentativas, eu nunca fui capaz de salvar o mundo, acho que eu precisava deixar Jesus me salvar primeiro.
Por um minuto, a universidade afastou de mim todos meus ideais, minhas paixões e sonhos.
Por uma eternidade, na universidade encontrei a graça de Jesus, outrora perdida em minha vida.
Na universidade conheci a ABU, encontrei muitos amigos, e com eles brinquei, chorei, orei, amei, dentro do alojamento, dentro do banheiro, na fila do almoço ou em qualquer outro lugar*. Vivi tantas aventuras que segundo meus cálculos, meus filhos completarão seus vinte anos e não precisarão ouvir duas vezes a mesma história.
Tanto amor, proezas e medos, tenho pra narrar. Lembro-me de olhar nos olhos dos formandos, no olho esquerdo eu via a alegria de formar, no direito eu via escapar uma lágrima e a tristeza em deixar a ABU... È difícil pensar que logo chegará minha vez.
Sentir Deus, eu sinto em qualquer lugar, mas a ABU é meu lugar predileto. Amadureci atento a cada estudo, quando aprendi a ouvir, comecei falar. Falar de algo novo pra mim e surpreendente: o amor e a graça de Jesus Cristo. Lembro-me também de situações engraçadas: a primeira vez que dancei forró, acredite se quiser, foi na ABU!
Peço paciência para contar minha última grande aventura, o encontro de 50anos da ABUB (aliança bíblica universitária do Brasil) em Goiás.
Um dia olharei nos olhos do meu filho gordinho e perguntarei a ele: “por acaso seu pai já lhe contou a emocionante história das pérolas perdidas?”
Direi a ele, sobre uma divertida viagem de 18 horas do Rio a Goiás.
Cantarei a ele, uma das tantas músicas de louvor que cantamos durantes esse percurso.
Direi a ele, que naquele encontro, meus questionamentos a respeito da miséria e o silêncio de Deus foram respondidos.
Direi a ele, que Deus usou uma missionária da África, como exemplo de entrega e amor ao próximo.
Direi a ele, que existe muitos outros ABUenses espalhados pelos Brasil pregando o evangelho nas universidades e vivendo suas próprias aventuras.
Farei ele rir das boas brincadeiras, principalmente da noite em que nós rapazes ensinamos cada garota a observar as estrelas de uma forma divertida e especial.
Não esquecerei de dizer a ele, sobre a bela e atrapalhada serenata, que nós rapazes fizemos para as garotas em plena luz da lua, e as coreografias... Essas não precisam ser descritas detalhadamente.
Com certeza, ele como todo garoto curioso perguntará: “papai o que aconteceu com as pérolas que estavam perdidas?”.
Direi a ele, que não haviam pérolas perdidas, na verdade, elas sempre estiveram comigo e eu não sabia enxergá-las.
Quando ele estiver quase dormindo, sussurrarei em seus ouvidos uma verdade que aprendi em minhas aventuras: “as mais preciosas pérolas que Deus nos dar: são os amigos”.
Parabéns ABU pelos seus 50anos, não podemos negar as dificuldades da semente, mas também não podemos deixar de experimentar o doce dos frutos. A ciência e a fé que vivemos, escreve uma história de amor e amizade aos olhos de DEUS.

Castro Lins
* trecho da música “grato te sou” própria do grupo ABU-rural. 15/06/07