É coerente com a sociedade, defender o pensamento que cada ser humano individual, em resumo, é fruto de uma construção humana coletiva, ou seja, social. Em termos mais alegóricos é como se o homem estivesse sempre em construção, inacabado, e cada relacionamento pessoal e social no decorrer de sua vida construísse um pouco da sua identidade. Os fundamentos desse edifício que denominamos “homem” são postos pelos pais, esses, salvo exceções, são o primeiro objeto de relacionamento do homem e por seguinte os primeiros a construir uma identidade ainda em desenvolvimento, num estado, digamos, fetal.
Num segundo momento, o homem sai da realidade exclusiva aos pais e então passa a relacionar-se com o ambiente em que se insere, a partir de então cada outro relacionamento vem a definir em parte o que aquele homem é, de modo que podemos supor que o homem é um cultivo de uma determinada sociedade, podemos ir até mais além, acreditando que cada ser humano carrega em si, como processo dessa construção de identidade, um pedacinho do outro, uma parcela de contribuição inconsciente que é fruto de relacionamentos. O pensamento ideológico dominante que molda o contexto desse ator, também é predominante na sua formação como individuo, por exemplo, o homem moderno carrega consigo toda uma bagagem antropocêntrica talvez inacessível ao homem da idade média, o advento da ciência e a certeza que a terra não é o centro do universo, são de certa forma conceitos indissociáveis de uma identidade moderna.
Ao terceiro momento, certo da sua identidade como um processo único e acabado, esse indivíduo encerra o processo de construção, rejeita qualquer contribuição a mais e desconsidera qualquer outra identidade construída distinta da sua. Para esse encerramento, necessita a este, o romper das relações, que são sempre construtivas, com o outro diferente que ameace sua formação cultural identitária. Buscando-se razões para esse romper, faz-se uso de uma visão etnocêntrica a respeito desse outro ameaçador, e a partir de então se exerce um valor sobre, que na maioria dos casos é depreciativo para justificar a superioridade de determinado grupo cultural. Um pensamento coletivo de superioridade e de inferiorizarão do outro acarreta sérios riscos danosos, pois fomenta motivos e justifica ações de natureza violenta, em outras palavras, essas são de certa forma as mesmas razões que alimentaram a escravidão, a inquisição, entre outros muitos exemplos de intolerância que a história pontua.
O passo inicial para uma proposta de convivência saudável, pauta-se na não interrupção do processo de construção da identidade, de modo que o homem sempre encontre-se inacabado e carente de relacionamentos que o construam, todavia numa etapa adulta o indivíduo desenvolve-se a sujeito da sua vida e não um simples cultivo social, dessa maneira pronto para rejeitar toda cultura que violenta as relações sociais, e abraçar toda cultura que promove vida de qualidade em termos de religião, arte, ideologia, economia... Por fim, colocando sob critério o que virá a ser parte dessa identidade, esse indivíduo também deve atentar-se sobre qual olhar que ele deve lançar sobre as mais diversas manifestações culturais colocadas a seu dispor observatório, pois uma visão que opina a partir de realidades distintas ao nascedouro de determinada cultura, corre o sério risco de desvirtua-se e corroborar numa reprodução de conceitos discriminatórios que partem de experiências isoladas e generalistas.
Portanto o homem é um ser social construído da diversidade das relações, e não há outro modo mais humano de encarar o diferente que não seja apenas como “diferente”, nem melhor nem pior, somente diferente.
Castro Lins
Dileto amigo,
ResponderExcluirSaudade!
Como andam as coisas por ai? Como está o curso de Teologia? Gostando?
Rapaz, tu está fazendo falta por aqui. Boas lembranças dos tempos de outrora!
Belo texto! Como sempre, manda bem no que escreve! Quando crescer quero ser igual a você!!!
Deus o abençoe efusivamente!
Abraço.
Rev. Davi Emerick (Vila Pavão).