quarta-feira, 11 de março de 2009


Divã: dor e amor


Desculpe não quero ser entediante novamente, mas preciso lhe contar sobre algo muito importante que aconteceu comigo nesse final de semana.



Acho que foi sábado à noite, quando resolvi conversar um pouco com meu velho e bom amigo C.S.Lewis, comecei a ler um novo capítulo que debate a respeito do sofrimento.


Não sendo uma novidade, mas lembrei-me de ti.


Lembrei-me quando ele começou a narrar a morte de sua esposa, que antecipadamente você já havia me contado. Ele narra um sofrimento real em sua vida, utilizando-se daquele momento para conhecer e analisar esse visitante inoportuno que agora passava a fazer morada em sua casa e no seu coração. Mas o fato é que naquela noite não pude entender muito bem a mensagem daquele capítulo, isso tirou meu sono.


Entramos num debate, eu, Lewis e Deus. O sofrimento é algo complexo que necessita de estudo, análises e a presença do Espírito Santo.


Eu só não imaginava que as respostas dos meus questionamentos viriam novamente vestidas de metáforas, e depois de tanta procura, eu as encontraria escondidas numa literatura secular qualquer. Lembrei de um livro antigo que li no ensino médio, de forma inconsciente - pelo menos eu acho que seja - a literatura me lembra a ABU (aliança bíblica universitária), agora me lembra você também, creio que Freud possa explicar essas minhas loucuras, não sei, nessa noite fui dormir quase três da madrugada, mas o fato é que pude entender o sofrimento dos homens e o amor de Deus, através desse livro.


No terceiro ano do meu segundo grau, um singelo livro contagiou os alunos do colégio interno em que estudei, eu fui um dos primeiros a contrair aquela febre e fiz questão de passá-la para outros colegas.


O livro se chama: “Olhai os lírios do campo”, escrito por Érico Veríssimo ao qual tornei-me fã até hoje.


A história narra a vida de Eugênio, um garoto tímido de origem humilde, que no decorrer de sua infância contrai uma doença perigosa, que aos poucos cresce na mesma medida que seu portador diminui.

Ela enegrece seu coração, sua mente, até atingir o estágio final quando ganha sua alma e instala a morte na sua vida de forma que você já não pode diferenciá-las.

Não falo pelo livro, falo por mim, eu me identifiquei com Eugênio, poucos livros foram tão hipnotizastes para meus olhos. Eugênio sofria com depressão, mais precisamente complexo de inferioridade, já dei alguns estudos na ABU a esse respeito.


Eugênio cresceu foi para faculdade e cursou medicina, um curso que o amedrontava, ele tinha nostalgiaa em sua vida e odiava sangue.

A doença no peito do pobre rapaz progredia semelhante a um câncer, na verdade cursar medicina foi uma procura pela cura, uma forma de tentar vencer a inferioridade, no entanto, foi ineficaz, talvez o efeito tenha sido até mesmo inverso.


Entre uma centena de diferentes rostos durante uma festa de formatura, Eugênio conheceu Olívia sua primeira amiga, seu primeiro sentimento de ternura mais sublime e oposto, ou apenas maior, a tudo que ele já sentiu relacionado ao belo e o horrível, ao choro e o sorriso.


Eugênio encontrou em Olívia sonhos que ele nem mesmo ousou em sonhar, mas quando acordou lembrou-se de sua doença, a dor o fez olhar de lado, assim ele conheceu Eunice, uma mulher linda e de família nobre. Eugênio viu nela a cura de seu mal. A inferioridade ia dar lugar a um futuro médico renomado e a uma esposa perfeita. A depressão e o vazio seriam preenchidos de toda felicidade que o homem pode conquistar.


Não consegui julgar e condenar Eugênio por ter se casado com Eunice, talvez no lugar dele eu faria o mesmo. A minha maior surpresa foi quando comecei a odiar Olívia, pois o livro demonstra um jovem inseguro e doente a procura do amor para curar-se, Olívia sabia disso e o autor deixa bem claro que um simples gesto, ou uma palavra, não um grito, mas apenas um sussurro de Olívia faria Eugênio correr para os seus braços, ela tinha o poder nas mãos, amando-o verdadeiramente não deixaria ele ir embora e sofrer as conseqüências de uma escolha errada.

Enfim, Olívia poderia ter evitado a dor de seu amado e oferecer-lhe a felicidade.


A história continua narrando o sofrimento de Eugênio, sua infelicidade no casamento no trabalho, sua depressão já se tornava insuportável e a cada página eu dizia: “tudo culpa da Olívia”.


Eu odiei aquela personagem e queria saber se meus colegas que haviam lido o livro achavam o mesmo, resolvi então fazer uma pesquisa, – essa foi a minha primeira – perguntei a meus amigos a respeito das atitudes, ou melhor, da falta de atitude de Olívia, perguntei também sobre Eugênio e seus erros, o resultado foi assustador!



A maioria das mulheres, com pequenas exceções, disseram que a Olívia não tinha culpa de nada, reclamaram da insensibilidade de Eugênio, elas usavam termos como: “ o verdadeiro amor se vê nos olhos não precisa de palavras”. Prefiro não citar outras frases do tipo para não lhe fazer dormir. Vai entender as mulheres... acho que elas não devem participar de pesquisas, elas devem é ser pesquisadas, mas tudo bem.


Os homens, por outro lado, concordaram comigo: “Olívia não amava Eugênio verdadeiramente, apesar de toda bondade ela era apática e distante”.


Guardei esse meu resultado vencedor - pois a opinião feminina foi irrelevante - até ser confrontado para meditar a respeito do sofrimento humano.


Todo bom ateu odeia um Deus que não existe, discute com Ele e diz: se Deus existisse e nos amasse com todo esse amor infinito, Ele não permitiria tanta dor, tanto sofrimento, crianças assoladas pela morte, seres que mal conhecem a vida, mas bem sabem o que é não ter o que comer.


Mal conhecem a vida, mas bem sabem que ela é cruel, impiedosa e cheia de preconceitos.As guerras frias que geram pessoas frias! Se Deus tem todo o poder nas mãos e todo o amor em seu coração, então por quê?


Por um tempo da minha vida tentei carregar as dores do mundo, percebi que aquilo era pesado demais pra mim, então me revoltei com Deus, afinal se Ele existisse estava de olhos fechados para toda nossa dor, estava distante em seu trono enquanto a gente se matava por aqui.


Que Deus insensível era esse, apático, não muito diferente de nós. Não sei, talvez Ele quisesse brincar conosco, um jogo, ou um vestibular para os mais capacitados e bondosos entrarem no reino dos céus. Ou pior ainda, Ele podia não existir! Pensei em todas as hipóteses, mas nenhuma me convenceu, eu não podia acreditar que o Deus e Pai ao qual eu dei a minha existência, pudesse não existir, então quem chorava comigo durante as noites difíceis? Quem me abraçava e me trazia segurança?


Em que peito eu reclinei minha cabeça tantas vezes? Quem me amou, mesmo quando eu não me amei?


Percebi que a raiva que eu senti por Deus, era a mesma que sentia por Olívia. Hoje eu entendo que ela tinha um poder, perante a insegurança de Eugênio, para evitar aquela escolha errada, porém ela não só estaria evitando o erro e a dor, mas também a escolha.


Sim, ela poderia pedir para que Eugênio ficasse e vivesse um amor que certamente o faria feliz, um amor capaz de curar as feridas da alma e pleno para garantir uma cura eterna. Todavia todo pleno é completo, enquanto Eugênio não tivesse a certeza plena em encontrar a felicidade nos braços de Olívia, ele não poderia vivê-la plenamente, assim ela não valeria a pena.

Todas as manhãs Eugênio olharia para traz, imaginando todo o dinheiro que poderia adquirir, lembrando da beleza de Eunice, toda a ternura oferecida por Olívia seria insuficiente e pequena mesmo sendo grande e suficiente. Ele apostou tudo, pensando encontrar sua cura em outro caminho, isso trouxe muito sofrimento, mas o livro continua, e depois de tanta dor esse jovem obre os olhos e ver que sua cura estava nas mãos de Olívia, percebe sua escolha errada, então arrependido e completo pela certeza do seu amor por Olívia, ele decide voltar e reencontrá-la.


Finalmente ele estava pronto!


Deus age de forma semelhante, mesmo tendo o poder de evitar a dor, ele deseja nos dar amor e felicidade, porém ambas maravilhas só podem ser plenas e perfeitas, se de forma completa tivermos a certeza que fizemos a escolha certa, a certeza que nos foi dado o direito de escolher e a escolha de estar perto de quem nos ama. As desgraças humanas são proporcionais à distância que o homem está da graça e do amor de Deus, não são castigos, são os frutos das nossas sementes.


O mal é apenas a ausência do bem. C.S.Lewis diz que as pedras não são más e não sentem dor, porém não são boas e nem felizes, a elas não foi dado o direito de escolher. Saber que Deus existe é simples, claro e evidente, mas saber que Ele é Pai cabe somente aos filhos.

Quando resolvemos trilhar nossos próprios caminhos achando que a felicidade vai ser encontrada nas riquezas, ou na mulher dos seus sonhos, numa manhã perceberemos que nosso câncer da alma não parou um só segundo de crescer causando dor a você e a todos ao seu redor.


Não estou afirmando que na caminha cristã não haverá sofrimento, pois o pecado é um câncer que dói em todos, e por mais que alguns neguem: “toda dor dói”. Mas apesar das agulhas semelhantes, a dor de uma vacina é diferente da dor de uma injeção de cianeto, a primeira lhe garante imunidade, a segunda lhe envenena, uma é para vida, a outra é para morte.


Alguns mais apaixonados se encantam com a beleza da rosa, que nem percebem seus espinhos perfurando suas mãos, e nem mesmo o sangue escorrendo entre seus dedos os fariam largar aquela fascinante rosa.


Como disse o poeta: “Amor é ferida que dói e não se sente”.


A beleza do amor de Deus é encantadora, e os espinhos não foram capazes de roubar esse encanto, a cruz só provou que esse amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta e jamais acaba.


De forma que ele inicia em nos um tratamento médico, e a dor já não nos leva a morte, ela é um tijolo que faz parte da construção da nossa alma, ela faz parte do tratamento.


Olívia poderia apertar a mão de Eugênio e não deixá-lo ir, assim ela evitaria tantos erros e sofrimentos, inevitavelmente ela também escreveria um fim a toda e qualquer forma de amor perfeito e eterno.


Deus poderia segurar em nossas mãos evitando tantas mazelas que permeiam a dor humana, inevitavelmente toda forma de felicidade e amor seria incompleta ou nula, afinal, as pedras não possuem sentimentos.


As questões sobre o sofrimento são inúmeras, mas Jesus é a única resposta.O livro também só está na metade e há muitas outras perguntas a esse respeito, mas não quero me alongar mais, acho que cheguei no limite da sua paciência Jódiniana. Quando possível leia esse livro. Qualquer dúvida leia a bíblia, leia C.S.Lewis.


Mesmo minhas colegas estando certas com relação à pesquisa, suas justificativas eram bobas e cheias de infantilidade.


Aprendi a amar Olívia, mas ainda não entendo as mulheres.


Tem coisas que nem eu, nem meu amigo Freud sabemos explicar.
Ass...

Castro Lins

Um comentário:

  1. também acho...rsrsrs
    "elas devem é ser pesquisadas"(é uma coisa dificil que poucos homens fazem).. não.. não acho machista..rsrsrsrs
    obrigada pelo texto e pelo carinho! ^^
    bjão

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