sábado, 14 de março de 2009

Nesses últimos dias...


Nesses últimos dias, tenho observado uma angústia silenciosa entranhada e escondida em algum lugar, em algum momento, no espaço e no tempo, dentro e fora de mim.

Nos dias tristes as pessoas procuram caminhar, quanto maior a tristeza mais elas caminham, distanciam-se da cidade, dos homens, do asfalto e quando chegam no chão de barro elas se encontram, como se o espelho fosse feito de argila, como se não houvesse mais nada atrás, e a frente, apenas se ver um caminho que se encontra com o horizonte e não se enxerga o fim.

A tristeza não se ver ela é como a gravidade, apenas te faz cair. Cada passo a frente, deixa para trás uma lágrima que cai de seu rosto, é caminhado e dialogando com o caminho, deixando as dores pelo caminho e tornando-se leve para caminhar.


Nesses últimos dias, decidi caminhar. A beira do caminho vi uma criança tentando pegar borboletas amarelas com as próprias mãos, foi engraçado, o menino era enérgico e sorridente, parecia incansável em busca das belas e de tão ricas amarelas borboletas.Em minha tristeza vi felicidade. Passados alguns minutos, o pai do garoto – cansado do futebol - se aproxima e chama-o: “vamos para casa filho”.

Nesse mesmo instante o menino finalmente havia capturado sua borboleta amarela, instintivamente ele olha para o pai, olha para a borboleta na brecha de suas mãos, em menos de um minuto ele pensa em todo esforço, alegria e por fim sua conquista, olha para o pai novamente em sua impaciência, sorri e solta a borboleta que voa pelos ares, o garoto correu para os braços do pai e voltou para sua casa.
Eu vi aquela criança dando o seu melhor com entusiasmo em busca de um sonho voador, ela era feliz correndo, pulando e finalmente com a borboleta amarela tão sonhada nas mãos, mas inesperadamente e nesse exato momento seu pai lhe chama pelo nome, o domingo no parque havia chagado ao fim, junto a ele a felicidade se esvaia, o menino precisava ouvir a voz do pai e abrir suas mãos para a borboleta partir, ele não podia levá-la, certamente ela morreria.

Todo esforço, cada corrida, cada pulo, tudo ficaria para trás... As crianças são felizes no parque, com os amigos e até mesmo na escola.

Brincar é bom, caçar borboletas amarelas é divertido, mas quando a criança ouve a voz do pai ela percebe que aquele parque não é sua casa, aquele não é seu lugar, logo a noite vai chegar e com ela a escuridão vai descer.

A criança não pensou mais do que um minuto para correr em direção dos braços do pai, por mais incrível que pareça creio que, enquanto brincava, aquele menino cultivava em seu mente uma certeza concisa ao saber: de onde ele veio e para onde ele vai. O garoto sabia que viera com pai e que deveria voltar com pai, isso não o impediu de alegra-se no domingo, só contribuiu para melhor aproveitá-lo.
“Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim... sabendo este que o pai tudo confiara ás suas mãos, e que ele viera do Pai, e voltava para o Pai”.(João 13:1-3).
Voltando a caminhar, entendi que nossas vidas devem imitar um garoto e sua borboleta. A nossa vida é um parque dos dias de domingo, devemos ser enérgicos, sorridentes e esforçados na busca do que deseja nosso coração, em busca do que acreditamos, em busca do amor. Precisamos estudar ou trabalhar, namorar, constituir família.

Devemos ser realista e sonhadores, políticos, lutar por ideais e fazer das belas utopias uma realidade, tocar e nos dar uns aos outros, correr na graça, e pular na fé, não deixando que o cansaço ou os tombos, tire a alegria dos nossos rostos nem o desejo de correr e brincar.

Essa é a melhor maneira de amar infinitamente até o fim.

Todavia caçar as belas borboletas é privilégio das crianças apenas. A felicidade também! O parque é divertido, mas ele não é nossa casa, nós viemos do Pai e ao ouvir o som da sua voz voltamos correndo para Pai, pulamos em seus braços, e Ele nos leva para nosso verdadeiro lar.
Nesses velhos dias, eu não havia aproveitado os dias de domingo, não brinquei, e as borboletas amarelas zombavam de minha moleza. Nesses últimos dias, tenho a certeza que vim do meu Pai e que logo voltarei para Ele, basta o som da sua voz e eu correrei como uma criança para seus braços, mas enquanto isso... estou caçando borboletas amarelas - amando até fim.
Castro Lins

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