quarta-feira, 11 de março de 2009


Divã: O Poeta e o poema.

O que diz a alma, eu escrevo.
Não consigo lutar contra minha alma, pois eu sou ela.
Por mais incrível que pareça, meus melhores textos sugiram assim: em milésimos de segundos como um vento forte que você não sabe de onde vem nem para onde vai,
Um sopro divino que por onde passa deixa um pedacinho de vida ao inspirá-lo.
Eu não vejo esse vento, mas tento descrevê-lo, limitado que sou, apenas o sinto e para manter esse prazer mais perto de mim eu tento prendê-lo num mero pedaço de papel, e como não posso vê-lo tento imaginá-lo, enfim, digo que ele é o amor.
Na verdade faço apenas uma analogia e materializo algo tão imenso e desconhecido, algo como êxtase, um gozar infinito, felicidade eterna que não consigo detalhá-la, porém na fome de escrever sobre ela, digo que tudo isso é o amor de Deus. Sei apenas que sou limitado. Sou apenas um poeta, sou apenas um bufão ( acho que foi Pablo Neruda quem disse isso uma vez, não tenho certeza).


Quanto passei a ser movido não mais pelo sonho de fama e reconhecimento, escrever ganhou um novo significado em minha vida, o amor que tanto falo, é um amor aos leitores e ao Senhor da obra, só quero ajudar as pessoas de alguma forma.
Diante de tantas frustrações que tive na minha vida, percebi que o que faço de melhor para amar meu próximo: é escrever para ele, enfim, no meio dessa confusão louca que fiz com as palavras o que quero lhe dizer, ou lhe pedir, ou sugerir é: faça tudo e a todos, faça com amor e por amor, este, lança fora o medo da rejeição, dá brilho ao que é repudiante aos olhos.
Lembra da música do João Alexandre: “o poema, a maior obra de arte divina destaca-se à parte numa cruz vulgar/ custando o suplício de seu filho amado/ mais alta expressão do ato de amar”.
Pelo amor,
Deus fez a mais bela poesia dos séculos eternos num cenário de cruz, morte e dor.
O amor é o segredo que eu queria lhe contar.

Pensei nessa música quando ouvi a tradução grega de um versículo bíblico em efésios capítulo dois, essa passagem afirma que “somos feitura de Deus”.
A palavra feitura no grego significa poema, em outras palavras somos a poesia mais perfeita escrita pelas mãos do maior dos Poetas, Deus.
Eu escrevi certa vez que a poesia é parte do Poeta, dessa forma existem poetas incompletos; de forma maestral você me corrigiu e escreveu: “a poesia é uma extensão do poeta”.
Isso explica a razão pela qual fomos feitos para estar ligados a Deus,
afinal a poesia e o poeta são um, morre aos poucos a poesia longe do poeta.
Poesia que existe para encantar o poeta, ele por sua vez, ama sua criação como um pai ama um filho.
Certa passagem diz que somos feitos para o prazer de Deus.
Como poeta, a poesia me dá prazer, ela é parte de mim. Como poesia sou fruto dos mais belos sentimentos materializados em mim, sou parte de um todo infinito, sou a obra mais bela do maior dos escultores que desenhou cada traço do meu rosto, cada detalhe, a arte é resultado da criatividade e do prazer em criar.
O Deus criador estar acima dos mais renomados artistas, pois ele é o único que dá vida a sua obra de arte. Talvez nesse espaço exista o lugar para a famosa expressão bíblica: “Autor da vida”. Imagine se Leonardo fosse capaz de dar vida a sua amada obra, Monaliza.

Tenho uma amiga que gosta muito de Fernando Pessoa e creio que ela seja capaz de reconhecer um texto dele sem assinatura, lembrando apenas da sua forma de escrever, da sua pessoalidade e características comuns que os autores deixam claras em seus escritos, afinal sempre digo que o autor deixa parte dele no que escreve, seu texto é sua foto, sua marca registrada, fruto de toda uma história de vida, fatores do momento histórico vivido e dos seus sentimentos e ideologias mais pessoais.
Até os textos bíblicos inspirados não perdiam a influência do autor e do contexto da época, enfim quero dizer que a poesia é a imagem do poeta, são suas virtudes, amores e defeitos colocados no papel.
Sendo assim, somos a imagem de Deus, a sua semelhança em forma de poesia, isso nos dar a capacidade de amar, perdoar, criar, escolher e sorrir.
Aqueles que não perderam essa maravilhosa herança genética (se é que posso me colocar assim), expressam a imagem de Cristo em suas atitudes, em seus sonhos, em sua empatia. Sendo que, estes, mesmo sem uma assinatura religiosa nos fazem reconhecer seu Autor.

Peço novamente o direito de falar sobre as crianças, pois conheço uma historinha que narra o drama de duas crianças durante a guerra do Vietnã, quando soldados decidem explodir a aldeia dessas crianças, porém, um certo soldado vendo-as rapidamente agarra elas e corre para fugir da explosão, diante do estouro e da destruição ele abraça as crianças e os estilhaços da bomba chegam a ferir suas costas gravemente, um dos meninos vendo a atitude carinhosa e corajosa do soldado pergunta: ‘
O senhor é Deus?”.
E repete : “O senhor é Deus?”.

As nossas atitudes de amor, entrega, empatia, fazem lembrar o sacrifício de Cristo.
O abraço a custo de ferimentos, lembra a cruz.

Certa vez, as mais belas obras primas foram manchadas com tinta preta que despercebidamente caiu sobre elas, o que o Artista tem feito para reaver o que se perdeu?
Resume-se em limpar seus desenhos, apagar todo borrão as manchas negras que ofuscam a beleza dos seus quadros, até que eles retornem a perfeição outrora perdida. Essa mancha negra é chamada de pecado.
Jesus é o artista que apaga essas manchas com seu próprio sangue.

É bem verdade que algumas poesias são expressão de sentimentos ruins: dor, morte, lascívia.
Poetas mortos geram poemas pálidos, frios e sem vida.
Porém nesse mesmo capítulo do livro de efésios no versículo 5 diz: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, (...) e pela graça sois salvos”.
O grande Amor:
por causa, o motivo, a motivação.
Diante de algo tão grande, um sentimento que não dá lugar a outro que seja oposto, pois luz e trevas não se encontram juntas. Não há dúvidas que o amor é a fonte do poema divino.
A poesia também é arte de expressar sentimentos, sendo assim,Deus expressa esse amor, escreve um poema para os homens, entregando seu filho amado para morrer na cruz, esse foi o mais perfeito e belo entre todos poemas, e como disse João Alexandre: “a mais alta expressão do ato de amar”.

Recomendo-lhe poesias, recomendo-lhe também a boa música do João Alexandre. Perdão pela confusão de palavras abstratas, nesses últimos dias percebi que sou subjetivo demais, poucos entendem o que falo e o que escrevo, isso tem me feito rever meus dons e às vezes abalado minha coragem.
No entanto não sou Pregador, nem teólogo, ou erudito, se não me deixo entender é porque sou apenas um poeta incompreendido, como quase todos são, inclusive o maior de todos excedendo todo entendimento. Somente os sensíveis de ouvidos refinados ao amor podem ouvir Deus recitar seus poemas e se encantar com a expressão de cada verso: “Quem tem ouvido para ouvir ouça”.
Os poetas falam para poetas, pois ambos tem a mesma natureza, os mesmos sonhos, o horizonte é apenas um, mas eles são dois.
Enfim, eles caminham juntos pelo mesmo Caminho.
Creio que você enxerga o mesmo horizonte que eu, talvez até o veja mais nitidamente do que eu, em qualquer lugar da terra que se olhe, a lua é sempre a mesma.
Espero não ser pra você um desafio de interpretação, como tenho sido a muitas pessoas. Do amigo...

Castro Lins.

Um comentário:

  1. "Em qualquer lugar da terra que se olhe, a lua é sempre a mesma".

    Êta, poeta!!!

    Não se preoculpe; você é compreendido...

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