quinta-feira, 5 de março de 2009



Flamboiã


A primeira vez que conheci o flamboiã, estávamos no verão. Fiquei admirado com tamanha árvore, tão grande e forte, as crianças brincavam em sua sombra, famílias faziam piqueniques, canários amarelos pousavam em seus galhos e enfeitavam aquela majestade verde.
Passado alguns dias, o outono chegou. De repente eu olhei para o flamboiã e vi uma chuva de folhas amarelas caírem ao chão, sendo levadas embora pelo vento sem destino, pareciam lágrimas de uma árvore perdendo suas folhas, sua sombra e sua razão de existir. Os dias eram frios, não haviam crianças nas ruas, não havia sol para os piqueniques, o céu escureceu intensamente, o inverno chegou.
Não sei explicar como, mas o flamboiã parecia secar e morrer, perante o tempo e o espaço me vi pequeno e a única coisa que restava as minhas mãos, era fechá-las, orando a Deus para que ele viesse devolver a vida da árvore que tanto me alegrou um dia.
Meses se passaram e o flamboiã ainda parecia sem vida. Certo dia, um raio de sol penetrou as escondidas pela brecha da minha janela. Sim! A primavera chegou. Semelhante a um milagre, o flamboiã ganhou de volta suas folhas, e junto a elas, ganhou flores. Aquela foi à primeira vez que vi um flamboiã florido, nunca esqueci aquela bela imagem. Porém, o mais fascinante ainda estava por vir: o flamboiã que no outono chorou folhas, na primavera chora flores... As flores caiam lentamente e enfeitavam o chão onde as crianças voltavam a brincar. Dessa vez já não era choro, parecia neve colorida em plena primavera, ou apenas uma chuva de felicidade que o vento espalhava pelas ruas da cidade.
Lembro-me bem daquele chão colorido e perfumado. Lembro dos canários e dos piqueniques. Lembro daquele verão. As lembranças têm vida própria, não consegui deixar de lembrar da palidez morta do outono, ou do frio de inverno, mas é impossível pensar em apenas três estações, não pude esquecer que a primavera veio logo adiante e isso me deu forças para esperá-la sempre, talvez essa seja a razão da verde esperança, talvez esse verde signifique o flamboiã, talvez o flamboiã signifique a esperança.
Naqueles dias aprendi que mesmo que eu chore no outono, mesmo que prossiga um inverno escuro, nunca devo perder a certeza da primavera.
Deus escreve a histórias de seus filhos e ele sempre termina com um final feliz.
Ele deu-me o dom de passar essas histórias para o papel. Deus é a primavera que traz luz e vida. As crianças e os pássaros são as pessoas que precisam de sombra, precisam de amor, sorrisos, e de um lugar, ou alguém, que ofereça a elas um alívio, um consolo, uma sombra, depois da quente e cansativa caminhada da vida. Diante das quatros estações da vida, somos flamboiãs, as vezes perdemos nossas folhas e secamos e todos se afastam de nós, mas nem a morte é capaz de conter a primavera, em galhos secos brotam flores, e com vento a vida volta.
A primavera já chegou, espero te ver florescer.
Castro Lins
Esse é um trecho de uma carta que escrevi a uma amiga, achei interessante dividi-la e oferecê-la a outros amigos tão especiais quanto essa minha querida amiga. Diante da globalização que cativa os viventes do globo terrestre, rindo, eu recomendo que sempre quando possível – leitor- escreva cartas, não deixe o sistema globalizar seus sentimentos, sua fé, seu romantismo, não deixe a crise na bolsa de valores lhe causar uma crise de percepção da qual grande parte das pessoas está inserida, ou melhor, contaminada. Não importa a distância, - essa amiga mora numa cidade ironicamente bem próxima a minha casa - escreva cartas, divida pensamentos, medos, felicidades. Exercite os sonhos, seja poeta, barroco, seja meu amigo, escreva uma carta pra mim!

2 comentários:

  1. Nossa como eu admiro a árvore flamboiã,me lembra minha infância de quando eu brincava em cima de árvore,sobia em seus ultimos galhos sem contar a sombra que ela dava eu amo a flamboiã sua beleza e sem igual.

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  2. Amo essa árvore pelo significado que inspirou meu amor por um Leão da Estrela,essa flor-do-paraíso que deixa na copa uma exuberante beleza.

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